sábado, 16 de agosto de 2025

Ebook 89

                                                  E-book 89                                               Importância do Relacionamento:pesquisa da Harvard 

                                                            Leitura em 30 min.    

 

                                      P S I C O L O G I A

                                    M O D E R NA

                      Blog emoçaoeatencao@blogspot.com

                             Prof. Dr. Jair de Oliveira Santos

                                                   2025


                  QUEM É O AUTOR

Jair de Oliveira Santos é Médico, Professor aposentado da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia, Graduado em Pedagogia, Especialista em Administração Escolar, Fundador e ex-Diretor da Faculdade Castro Alves, onde foi coordenador do Núcleo de Estudos das Emoções e do Programa de Educação das Emoções.

No blog emoçaoeatencao@blogspot.com, o Autor publicou 90 Posts, durante 10 anos, que foram divulgados pela Google em 87 países e teve , segundo o site Ranking Data, cerca de 1 milhão e 188 mil acessos anuais.

            Os posts publicados divulgaram informações sobre Psicologia Geral, Neuropsicologia, Psicologia Cognitiva, Educação das Emoções e Educação da Atenção e são baseados em e pesquisas realizadas por grandes Universidades, sobre Neurociências, Medicina e Psiconeuropedagogia, publicadas no Ncbi ( National Center for Biotechnology Information ) e no  Pubmed, órgãos do Ministério da Saúde dos Estados Unidos , National Institutes of Health (NIH).

       Os posts refletem a experiência de dezenas de anos de trabalho do Autor em instituições educacionais de ensino superior e médio, e da publicação de vários livros e monografias sobre os temas. O material dos blogs é exclusivamente informativo ,sem finalidade terapêutica, que deve ser feita por médicos e psicólogos.

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          O Autor lançou o Podcast das Emoções, no citado blog, em 2021 e iniciou publicações de E-books, já tendo publicado 42 episódios de Podcasts e 73 E-books sobre  psiconeuropsicologia. O total de publicações do blog ultrapassou a 200 nos últimos 10 anos (até 2025), entre posts, podcasts e e-books.

Pioneiro da Educações das Emoções na Bahia, implantou-a na Faculdade Castro Alves e em vários colégios, com excelentes resultados. Publicou os livros: 1- Educação Emocional- fundamentos e resultados;2- Manuais de Educação Emocional; 3- Educação Emocional na Sala de Aula, e 4-. Educação Emocional: Aspectos Históricos, Fundamentos e Resultados.

Dedicou-se à Educação Médica, foi Coordenador do Colegiado de Curso de Medicina da UFBA e o presidente da Comissão de Currículo da Faculdade de Medicina da UFBa. Publicou livros e artigos na Revista da Associação Brasileira de Educação Médica, dentre eles “Educação Médica e Humanismo”, e” Educação Médica- Filosofia, Valores e Ensino”.

 Dedico este e-book:

In memoriam: A minha inesquecível esposa, Olívia, meu Pai e minha Mãe.        

A meus filhos:Jair Filho, César, Telma, Vinicius e Paulo

A meus netos: Jéssica, Jair Neto, Ana Júlia, Pedro Gabriel, Maria Eduarda , Larissa e Arthur.

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A todos que nos propiciaram condições e estimularam estudos e pesquisas  sobre  a Educação das Emoções.

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“Quem conhece aos outros é inteligente, quem conhece a si mesmo é sábio“. Lao Tsé – Tao te King, XXXIII   

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“Trata a humanidade, na tua própria pessoa ou na de qualquer outra, como um fim em si, nunca apenas como um meio” Kant I., Fundamentação da Metafísica dos Costumes”, 1786.                           

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“Não há outro universo, senão o universo humano, o universo da subjetividade humana. É procurando sempre fora de si um fim que o homem se realizará como ser humano”  Sartre,J.P., “O Existencialismo é um humanismo”, 1944

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“Para criar uma boa vida, não basta lutar por metas que nos trazem prazer, mas também escolher metas que reduzirão a soma total de entropia no mundo”. Mihaly Csikszentmihalyi , A Descoberta do Fluxo, 1999.

                      COMUNICADO

A partir de 26-11-22, o blog emoçaoeatencao@blogspot.com teve nova orientação, para atender sua vasta clientela de milhões de leitores, conforme avaliação publicada pelo site Ranking Data, abaixo transcrita. Dentro de sua filosofia de trabalho, publica também e-books gratuitos, que conterão o conteúdo dos posts já publicados, além de novos conteúdos, de modo a constituírem um conjunto integrado de conhecimentos.

      Ranking database emoção atenção@blogspot.com, pesquisa. Imagens de ranking data base emocaoeatencao@blogspot.com

 

   RELAÇÃO DOS CONTEÚDOS DO E-BOOK 89

Capitulo 1: Pesquisa da Harvard . Livro de Gilliard

Capitulo  2: Entrevista  de Waldinger na BBC.

Capítulo 3:  Entrevista Waldinger na Folha S.Paulo

 

 

                      

                                 

                                   CAPÍTULO I 

                                     A PESQUISA DA HARVARD

           A  Universidade de Harvard iniciou, em 1938, uma pesquisa sobre seus alunos e parte dos moradores próximos, que foi intitulada "Estudo sobre o Desenvolvimento Adulto". Tem hoje 87 anos e é a maior do mundo. Foi conduzida até  nossos dias, com os sobreviventes dos alunos e  moradores de Boston.

                Teve grande repercussão epistemológica nos pesquisadores , pois mostrou, entre outras coisas, a importância dos Relacionamentos na vida humana. A epistemologia dava como de grande importância na vida humana o efeito dos gens, da genética, mas a pesquisa comprovou que os Relacionamentos são mais importantes  que a genética  .

                                   

                                           Relacionamentos são mais importantes que a genética.

          A pesquisa começou com 724 alunos da Harvard, masculinos, pois na época não eram matriculadas mulheres. Foram acompanhados e hoje são maisde mil e estão próximos dos 90 anos.           A Harvard acompanhou os pesquisados ao longo de suas vidas, monitorando seus estados mentais, físicos e emocionais. Atualmente, a pesquisa tem mais de mil participantes, e inclui filhos dos alunos originais, segundo a Gazeta de Harvard

                    LIVRO DE  VAILLANT

    Um de seus diretores, George Vaillant, publicou o livro “Envelhecendo Bem” , sobre a pesquisa. Ele se juntou à equipe como pesquisador em 1966, liderou o estudo de 1972 a 2004. Formado em psicanálise, Vaillant enfatizou o papel dos relacionamentos e reconheceu o papel crucial que eles desempenham para as pessoas terem vidas longas. No livro, Vaillant disse que 6 fatores previam envelhecimento saudável:

1.   Atividade física;

2.   ausência de abuso de álcool e tabagismo;

3.   mecanismos maduros para lidar com a vida;

4.    desfrutar de um peso corporal saudável

5.    casamento estável.

6.   Para os homens das áreas urbanas pobres, a educação era um fator adicional a ser utilizado.

     "Quanto mais educação os homens das áreas urbanas pobres obtiveram", escreveu Vailliant,"maior probabilidade de pararem de fumar, de comerem de forma sensata e de consumirem álcool com moderação".

                                       

                                 Para Vaillant, 6 fatores previam envelhecimento saudável.

        Vaillant destacou o papel dos fatores de proteção no envelhecimento saudável: quanto mais fatores os participantes possuíam, maiores as chances de terem vidas longas e felizes.

         “Quando o estudo começou, ninguém se importava com empatia ou apego”, disse Vaillant. “Mas a chave para um envelhecimento saudável é a empatia e o apego no relacionamento. “Queremos descobrir como uma infância difícil atravessa décadas e destrói o corpo na meia-idade e mais tarde.”

          O estudo mostrou que o papel da genética e de ancestrais longevos se mostrou menos importante para a longevidade, do que seu nível de satisfação com os relacionamentos na meia-idade, que agora é reconhecido como bom indicador de envelhecimento saudável.

                               

                    Os relacionamentos são mais  importante para a longevidade, que a genética.

         Por outro lado, a pesquisa não comprovou que a personalidade "se torna engessada" aos 30 anos, sem mudar.

           “Aqueles que eram claramente um desastre aos 20 ou 25 anos acabaram se tornando octogenários maravilhosos”, disse ele. “Por outro lado, o alcoolismo e a depressão grave podem levar pessoas que começaram a vida como estrelas e deixá-las no final da vida como desastres.”

                                                                

                                       O alcoolismo pode levar a pessoa ao desastre.           

 

 

 

                                   CAPÍTULO II  

                                  ENTREVISTA DE WALDINGER À BBC

        O Pof. Robert  Waldinger disse que a qualidade dos relacionamentos das pessoas é o principal indicador da felicidade e saúde humanas,  à medida que envelhecemos. E que nunca é tarde para "energizar" nossas relações e fazer outras novas.

      Pergunta – O que mais chamou sua atenção na pesquisa ?

      Waldinger - Não foi surpresa que as pessoas em relacionamentos mais calorosos fossem mais felizes. Isso faz sentido. A surpresa foi que quem tem relacionamento mais caloroso é fisicamente mais saudável ​​quando envelhece.

A questão é: como os relacionamentos podem torná-lo menos propenso a desenvolver diabetes tipo 2 ou doença coronariana?

Outros estudos mais tarde descobriram a mesma coisa, e esse  é um  achado forte.

        Passamos os últimos dez anos no laboratório tentando entender como os relacionamentos afetam nossos corpos e mudam nossa fisiologia. Assim como buscamos cuidar da nossa aptidão física, defendo que cultivemos nossa  'aptidão social'

                                                     

                                                   Quem tem relacionamento caloroso é mais saudável ao envelhecer.

      Pergunta - Qual é sua hipótese para isso?

     Waldinger - O estresse é uma parte natural da vida. Se algo estressante acontecer comigo esta manhã, haverá mudanças em meu corpo: a frequência cardíaca aumentará, minha pressão arterial aumentará, na "reação de luta ou fuga".

Mas espera-se que nosso corpo volte ao equilíbrio, ao normal, uma vez que o estresse vá embora. Percebemos na pesquisa que  a solidão e o isolamento são estressantes. Se algo incômodo, estressante, aconteceu, posso ir para casa e conversar com minha esposa ou ligar para um amigo. Se eles forem bons ouvintes, posso sentir meu nível de estresse diminuir.

           Mas se não tenho ninguém, se estou isolado e sozinho, meu corpo permanece com certo grau de "reação de luta ou fuga".  E o nível de hormônios do estresse, do cortisol, será mais alto, circulando em meu sangue, bem como os níveis de indicadores de inflamação em meu corpo. Esses fatores atacam diferentes sistemas corporais, por isto  isolamento social e  solidão afetam as coronárias e articulações.

         Pergunta - Você assegura que uma vida boa é uma vida complicada e que há felicidade, e dor nela . Ter bons relacionamentos nos ajudam a processar as emoções difíceis?

         Waldinger - Sim, eles nos ajudam a gerir melhor as emoções porque as relações emocionais positivas muitas vezes nos permitem falar sobre o que sentimos. E, em primeiro lugar, temos um sentimento de pertencimento. Somos animais sociais: provavelmente evoluímos assim porque é mais seguro estar em grupo. Sentir que pertencemos a um grupo é uma forma de aliviar o estresse.

           Quando você sente que é a única pessoa com um problema, não se sente bem, e sozinho. Mas  se conversa com outras pessoas que têm o mesmo problema, isso faz com que você se sinta menos sozinho. Sentir-se sozinho é um importante regulador do estresse.

           Pergunta - No livro, você fala da importância de manter uma "aptidão social". O que é  isto?

           Waldinger - Cunhamos esse termo para torná-lo análogo ao fitness, porque vimos que cuidar de nossos relacionamentos é como exercitar um músculo. Se ficarmos sentados a vida toda, nossos músculos atrofiarão. E da mesma forma, olhando para as vidas das pessoas que participaram do estudo, vimos que bons relacionamentos podem murchar, se houver descuido da pessoa.

          Estamos começando a ver que, se você cuidar ativamente de seus relacionamentos, da mesma forma que cuida de seu corpo ou de uma planta em sua casa, eles permanecerão fortes.

'Somos animais sociais', lembra Waldinger .

          Pergunta - No livro, você dá várias sugestões para nutrir ou energizar um relacionamento. Uma delas é "reconhecer alguém que faz algo de bom". Como fazer isso?

         Waldinger - Somos muito bons em prestar atenção ao que não gostamos e ao que está errado. E com outras pessoas, tendemos a estar muito sintonizados com o que nos incomoda ou ofende, se alguém faz algo errado. Mas , muitas vezes, não importamos com o que as pessoas fazem bem. Por exemplo, minha esposa adora cozinhar e ajudar a preparar o jantar quase todas as noites. Eu tenho que me lembrar e  elogiar isto.

                   

            Minha esposa ajuda no preparo do jantar e devo agradecer a ela.

Da mesma forma, resolvo tudo que tem a ver com tecnologia, e ela deve lembrar que me dá trabalho fazer as coisas funcionarem, e me ajudar.

          Então é uma forma de praticar a gratidão, onde nos perguntamos: como seria minha vida se essa pessoa não fizesse essas coisas ou se essa pessoa não estivesse na minha vida? É isso é "reconhecer alguém por fazer algo bom", por fazer algo que, se não estivesse na minha vida, me faria  infeliz.

            Pergunta – Uma sugestão sua para cuidar de relacionamentos é ter uma "curiosidade radical". Que é isto?

           Waldinger - Quando estamos com alguém há muito tempo,  cônjuge, familiar ou amigo, achamos que conhecemos essa pessoa. Existem pesquisas sobre como estamos sintonizados com os sentimentos de outra pessoa, que mostram, especialmente quando saímos pela primeira vez com alguém, que somos bons em sintonizar com o que a outra pessoa está sentindo.

          Mas quando estamos juntos há cinco, dez, vinte anos, sabemos muito menos o que ela sente. Poderiamos pensar que fosse o contrário, que quanto mais tempo juntos, mais saberíamos dela, mas não é assim, pois começamos a supor que conhecemos a outra pessoa. E devemos é reverter isso e despertar a curiosidade. Quanto mais você convive com uma pessoa, mas você a conhece? Não necessariamente...

                     

Quando estamos juntos há muitos anos, sabemos menos o que o outro sente.

                 Pergunta - Numa palestra, você mencionou uma curiosidade radical com sua esposa...

                 Waldinger - Estou com minha esposa há 37 anos. E o que faço é me perguntar: como posso voltar a ter curiosidade sobre quem ela é hoje? Isso tem a ver com uma instrução de um dos meus mestres zen. Na meditação zen, você se senta em uma almofada e medita continuamente. Já meditei milhares de vezes. E a instrução é perguntar a si mesmo enquanto faz algo que você já fez mil vezes: o que tem de novo que não  percebi antes?  Você deve fazer isso enquanto escova os dentes. Se eu te perguntar qual dente você escova primeiro, aposto que você tem que pensar, porque faz isso automaticamente. Quando for escovar os dentes, pode fazê-lo com uma curiosidade radical.

         Pergunta - Você poderia compartilhar algo que notou sobre a esposa depois de  30 anos ?

         Waldinger - Descobri, por exemplo, que ela passou a usar brincos de prata em vez de ouro como antes, porque seu cabelo agora é grisalho em vez de castanho. É algo pequeno, mas que eu não tinha notado.   

         Pergunta – É possível uma pessoas sentir que não têm "boa vida", porque não têm muitos amigos ? O número de amigos importa?

         Waldinger - É importante, mas é uma coisa muito individual. Alguns são muito tímidos e, para essas pessoas, ter muitas pessoas por perto é estressante. Pessoas extrovertidas, por outro lado, precisam de muitas pessoas em suas vidas, pois isso lhes dá mais energia.

Uma pessoa tímida pode precisar de só um relacionamento próximo ou dois. Ter mais, pode ser estressante e cansativo. Mas a pessoa extrovertida geralmente quer muitos relacionamentos.

                             

Uma pessoa tímida pode precisar de só um relacionamento próximo ou dois.

Cada um de nós deve determinar por si mesmo, quanta atividade social é boa para si em sua vida.

        Pergunta - Muitas pessoas podem pensar: "Eu tento cultivar as minhas amizades, mas sou sempre aquele que liga e que ouve". Você aconselharia essas pessoas a serem francas com seus amigos sobre como se sentem?

        Waldinger - Sim, acho que seria bom porque algumas pessoas não percebem isso. Você pode dizer a um amigo: "Sempre sou eu que ligo para você. Gostaria que me ligasse de vez em quando ou me convidasse para tomar um café".

Mas haverá algumas pessoas que nunca o farão. Então eu diria a você que isso não significa que você tenha que cortar essas amizades. Mas você pode buscar outras que sejam mais próximas. Cada pessoa deve avaliar o quanto de socialização deseja para sua vida, recomenda Waldinger.

                                     

                                       Cada um deve avaliar quanto quer de socialização para si.

           Pergunta - Muitas trocas hoje são virtuais. Para os relacionamentos, qual o melhor modo de usar as redes sociais?

          Waldinger - Não é minha área de pesquisa, mas há estudos sobre isso e as primeiras descobertas indicam que a forma como usamos as redes sociais realmente importa.

           Se as usarmos ativamente para nos conectar com outras pessoas, isso aumentará nosso bem-estar. E o exemplo que gosto dar é um amigo meu que, na pandemia, se reconectou por Facebook com seus amigos do ensino fundamental. Agora, eles tomam um café virtual todos os domingos de manhã, no Zoom. Eles têm momentos maravilhosos falando sobre suas vidas e suas infâncias. É um  exemplo de conexão ativa via rede social, e todos ficam mais felizes por isso.

          Por outro lado, existe o uso passivo das redes sociais, quando consumimos os feeds do Instagram ou do Facebook, onde todos postam belas imagens de suas vidas. Por que não postamos fotos de quando estamos infelizes?

                                              

                                           Devemos postar fotos nas redes sociais quando estamos infelizes.

       Isso pode fazer com que outras pessoas que veem essas imagens sintam que " nem todo mundo tem uma vida boa e eu sou o único que está passando por momentos difíceis". Esse tipo de consumo passivo de mídia social nos faz sentir pior, e os adolescentes são particularmente vulneráveis ​​a isso.

       Então, como as redes sociais não vão acabar, o que podemos fazer é ser mais ativos ao usá-las para nos conectar com outras pessoas e não apenas olhar passivamente para o que as outras pessoas postam. Isso é terrível para nós.

        Pergunta - Uma palavra que não aparece muito no livro é "arrependimento". Alguns lidam com isso quando chegam a um determinado estágio de suas vidas e pensam, por exemplo, que poderiam ter entendido alguém melhor. Há algo que possamos aprender sobre arrependimento?

        Waldinger - Quando os participantes chegaram aos 80 anos, fizemos a seguinte pergunta: quando você olha para trás em sua vida, do que mais se arrepende? Houve dois arrependimentos.

Um deles era algo do tipo: "Gostaria de não ter passado tanto tempo no trabalho e passado mais tempo com as pessoas de quem gosto." Portanto, há uma razão para aquele conhecido clichê de que "ninguém em seu leito de morte gostaria de ter passado mais tempo no escritório".

O outro arrependimento geralmente expresso por mulheres foi: "Gostaria de não ter passado tanto tempo me preocupando com o que as outras pessoas pensam de mim."

             Portanto, se me perguntarem quais arrependimentos eu gostaria de evitar, a resposta seria passar bastante tempo com pessoas queridas e não gastar tanto tempo me preocupando com o que outras pessoas pensam.

Pergunta - Você falou sobre evitar arrependimentos. Mas o que fazer quando já estão presentes?

            Waldinger - Ao lidar com o arrependimento, não adianta ficar com raiva de nós mesmos e nos bater com força. A única utilidade do arrependimento é se ele nos informar sobre o que gostaríamos de fazer diferente no futuro. 'Use o arrependimento para aproveitar a vida que tem pela frente', recomenda o pesquisador.

      Pergunta - No livro, há um capítulo intitulado "Nunca é tarde demais". Qual a mensagem que  passa com essa frase?

      Waldinger - Algumas pessoas me disseram: "É tarde demais para mim. Não sou bom em relacionamentose isto nunca vai acontecer na minha vida". Algumas pessoas dizem isso com 20 anos e que é tarde demais para elas, e outras que dizem isso são mais velhas.

Mas o que vemos nas histórias do livro, que são de vidas reais, é que as pessoas encontram conexões que não esperavam em diferentes momentos de suas vidas, em conexões amorosas ou amizades. Portanto, para aqueles que acreditam que essas coisas nunca acontecerão, diríamos: você não tem como saber. A mensagem : vale a pena continuar trabalhando nisso porque a qualquer momento da vida você pode criar melhores  conexões.

Pergunta - Você é um mestre zen. A meditação desempenhou papel importante em sua vida?

Waldinger - Tem tido um grande papel. A meditação zen é sobre aprender sobre o aqui e agora, sobre o que é "estar vivo". É prestar atenção a tudo que ocorre em sua vida. Você fica mais familiarizado, com a experiência de olhar para uma flor durante cinco minutos, ou  de comer uma refeição consciente,  saboreando  cada mordida. É um mergulho na experiência de "estar vivo".

                                               

                                                      Waldinger  é um Meditador Zen.

            E isso se encaixa muito bem com estudar de todas as vidas. É  uma forma diferente de estudar a experiência humana. Da mesma forma, em meu trabalho como psiquiatra, tenho o privilégio de ouvir as pessoas falarem detalhadamente sobre suas vidas. E tudo isso para mim é um trabalho fascinante. Todas são maneiras diferentes de aprender sobre o ser humano.

           Pergunta - No livro, você afirma que “a Atenção é a forma mais básica de se amar “. É uma bela frase:  "Uma vida boa não é o destino, mas o caminho, com quem você caminha... E fazendo isso, segundo a segundo, você pode decidir a que e a quem dar sua atenção". Você pode nos falar sobre esse poder de escolher a cada momento que prestamos atenção?

                              

                    Devemos decidir a que e a quem dar nossa atenção.

       Waldinger - Essa é uma citação de um dos meus mestres zen. Seu nome é John Tarrant . Uma das coisas que sabemos é que nossa atenção é algo pelo qual as pessoas até brigam. Essas telas de televisão, que tanto amamos, são projetadas para nos cativar, porque os publicitários ganham dinheiro chamando nossa atenção e mantendo-a nelas.

Agora, o caminho de menor resistência é ficar o tempo todo na frente das telas. A pergunta é: podemos intencionalmente desviar nossa atenção das telas para a pessoa  que gostamos?

             Há uma escritora , Linda Stone, que escreve sobre algo que ela chama de “atenção parcial contínua”, que é o que estamos dando cada vez mais uns aos outros. Isso é um problema: estou falando com você, mas na verdade estou olhando para minha tela.

Queremos chamar a atenção para isso. Pense: com quem você se importa? Você poderia dar a essa pessoa toda a sua atenção? Essa é a pergunta que devemos nos fazer. 'Agora, mais do que nunca, o caminho de menor resistência é ficar o tempo todo na frente das telas', diz um autor de livro sobre a felicidade.  

            Pergunta - Com o privilégio que você teve de estudar todas essas vidas, você diria para alguém que teve uma infância muito conturbada ou enfrentou momentos muito difíceis, que todos nós podemos encontrar dentro de nós os recursos necessários para seguir em frente e prosperar?

        Waldinger - Acho que existe um instinto de prosperar, de sobreviver. Estamos todos tentando ser felizes. Uma das razões pelas quais minha palestra TED se tornou viral, como alguém me disse, é porque todo mundo quer ser feliz. Há em nós um impulso de encontrar modos de prosperar.

                                               

                                                         Todos nós queremos ser felizes.

            Acho que existe uma energia em todos nós que estamos  procurando por ela e isso é bom. Embora eu possa ser pessimista sobre para onde o mundo está indo, acho que as pessoas sempre foram assim. E isso abriu caminho para novas possibilidades, que  é algo que faz parte de nós.

Pergunta - Quais são os componentes básicos de uma boa vida?

Waldinger - É estar envolvido em atividades que são importantes e significativas. Minha pesquisa, meu trabalho, minha meditação zen, essas coisas são muito importantes para mim. Eu queria muito estar aqui, conversando com você agora, porque  dou muita importância a essas ideias e quero que alcancem as pessoas. Significa muito  para mim. Ter uma boa vida é fazer atividades que tenham significado para mim e realizá-las com pessoas que são importantes e se preocupam comigo.

BBC - Você termina o livro com uma chamada à ação. O que você convida a fazer quando terminarem de ler esta entrevista?

Waldinger - Eu diria: pense em alguém de quem você sente falta, em alguém com quem você não se sente tão conectado quanto gostaria , ou alguém que você quer ter certeza de que sabe que você está pensando nele ou nela. E envie uma mensagem de texto, ou um e-mail, ou ligue para elas e apenas diga: oi, eu estava pensando em você e queria lhe falar.

                                         

                                           Mande uma mensagem pelo e-mail para quem gosta.

            Basta fazer isso e você verá o que volta para você. Ficará surpreso com quantas pessoas ficarão felizes por você ter entrado em contato com elas. Então dê esse pequeno passo, levará 15 segundos para fazê-lo.

         O quarto diretor do estudo, Prof. Waldinger, expandiu a pesquisa para as esposas e filhos dos pesquisados originais. Este é o estudo de segunda geração, e Waldinger espera expandi-lo para a terceira e quarta gerações. "Provavelmente nunca será replicado", disse ele sobre a longa pesquisa, acrescentando que há muito a aprender.

             “Estamos tentando ver como as pessoas lidam com o estresse, se seus corpos estão em uma espécie de modo crônico de 'lutar ou fugir”, disse Waldinger. “Queremos descobrir como uma infância difícil atravessa décadas e destrói o corpo na meia-idade e mais tarde.”

          Lara Tang, da turma de 2018, estudante de Biologia Humana e Evolutiva, que recentemente se juntou à equipe como assistente de pesquisa, aprecia a oportunidade de ajudar a encontrar algumas dessas respostas. Ela se juntou ao esforço depois de se deparar com a palestra de Waldinger no TED em uma de suas aulas. “Isso me motivou a pesquisar mais sobre o desenvolvimento adulto”, disse Tang. “Quero ver como as experiências da infância afetam o desenvolvimento da saúde física, mental e da felicidade mais tarde, na vida.”

Questionado sobre as lições que aprendeu com o estudo, Waldinger, disse que medita diariamente e investe tempo e energia em seus relacionamentos, mais do que antes. “É fácil se isolar, se envolver no trabalho e não se lembrar: "Ah, faz tempo que não vejo esses amigos”, disse Waldinger. “Presto mais atenção a meus relacionamentos que antes.”

 

 

 

                     CAPÍTULO III

                                ENTREVISTA DE WALDINGER À FOLHA 

      Em 2015, o professor Robert Waldinger participou de uma conferência TED Talks apresentando a palestra "O que torna uma vida boa? Lições sobre o mais longo estudo sobre felicidade". Sete anos depois, o vídeo tem mais de 24 milhões de visualizações no YouTube, e ele é um autor de um livro sobre o assunto, que está na lista dos mais vendidos do New York Times.

         O segredo ,compartilhado por ele em entrevista à Folha de São Paulo, é o que chama a atenção: " a chave para uma vida mais feliz e saudável está nos relacionamentos que cultivamos."

          Waldinger afirma que cultivar relacionamentos recíprocos, que contam com apoio mútuo e espaço para crescimento é o que traz mais felicidade. Por outro lado, passar muito tempo no trabalho é um constante arrependimento dos participantes do estudo. Apesar disso, há também outros fatores que influenciam na saúde mental e sensação de felicidade – e um deles é o dinheiro.

                      

                       Dinheiro influencia na saúde mental e felicidade.

    O pesquisador ressalta que ter muito dinheiro ou fama não tem relação direta com a felicidade. Contudo, a pobreza influencia na satisfação com a vida. Waldinger aponta que, enquanto alguém não tem as suas necessidades básicas garantidas, ser feliz é tarefa difícil.

           A partir do momento em que necessidades como alimentação, moradia e educação estão garantidas, ganhar mais dinheiro não significa mais felicidade. Daí a importância de cultivar bons relacionamentos, desde os amorosos até os  com  colegas de trabalho.

 Pergunta - Quais as diferenças entre a forma como o estudo funciona hoje e quando começou ?

Waldinger - Nós ainda perguntamos às pessoas sobre suas vidas, o que mudou. A diferença está na maneira como fazemos isso. Hoje, colhemos sangue, mapeamos DNA e fazemos exames de imagem dos cérebros dos participantes.

Pergunta -  O que você teria feito diferente se tivesse participado desde os primeiros anos?

Waldinger - Eu teria incluído mais mulheres e diversidades desde o começo. Nós incluímos as mulheres depois, mas eu teria feito isso desde os primeiros momentos. Boston, em 1938, era uma cidade quase totalmente branca, e isso influi. Mas seria bom ter mais diversidade desde o início.

Pergunta - Quais as diferenças nas gerações envolvidas?

Waldinger - Há mais coisas em comum do que diferenças. As pessoas da primeira geração cresceram numa guerra mundial, com muito sofrimento. Talvez as da segunda geração tenham tido uma infância mais tranquila, com menos depressão, pois o mundo estava mais calmo. Hoje, voltamos a viver situações mais conturbadas novamente.

Pergunta -  Qual a descoberta mais interessante?

Waldinger - A ligação dos relacionamentos com a saúde. O fato de que boas relações fazerem as pessoas mais felizes e  mais saudáveis.

                          

                         Para Waldinger é importante a ligação de relacionamentos com boa saúde

 Pergunta -  E isso tem a ver com o estresse, certo?

Waldinger - Sim. E bons relacionamentos também te fazem lidar melhor com o estresse.

 Pergunta -  O que principalmente define uma vida feliz, segundo o estudo, é ter bons relacionamentos. O que classifica um relacionamento como bom ?

Waldinger - Se um bom relacionamento é recíproco, existe uma dinâmica de dar e receber. É uma relação onde existe apoio, troca e espaço para crescer e mudar também. As pessoas mudam, e numa boa relação existe acolhimento para essas novos comportamentos.

                          

                                  Numa boa relação existem os bons comportamentos.

Pergunta - Ter pouco dinheiro influi na felicidade ?

Waldinger - Sim. A pobreza impacta negativamente a felicidade . É comprovado que, enquanto você está se preocupando em se alimentar e satisfazer as suas necessidades básicas, isso influencia na sua saúde mental e na felicidade. A partir do momento em que as suas necessidades básicas estão garantidas, não. Mas dinheiro não significa necessariamente mais felicidade.

Pergunta - Estamos reconhecendo agora que a família também pode ter relacionamentos tóxicos. Você tem conselhos para lidar com isso?

Waldinger - O ideal sempre é tentar melhorar as relações, porque as relações familiares realmente podem ser algo muito forte e único. Então, tentar entender o que não está funcionando e dialogar para construir uma relação melhor é a melhor opção. Se realmente não estiver funcionando e aquela relação for algo que te faz mal, em alguns casos temos que nos afastar da pessoa.

                                         

                                         Devemos identificar o que não está funcionando bem na família.

 Pergunta -  Normalmente, quando falamos sobre relacionamentos, as pessoas acreditam que as relações românticas são as mais importantes. Isso é verdade?

Waldinger - Não. Amigos, colegas de trabalho e família são igualmente importantes.

Na maior parte dos casos, pessoas que têm uma rede mais ampla e diversificada de relacionamentos são mais felizes. Elas têm uma rede de segurança. É muito difícil que uma única pessoa possa te dar tudo que você precisa. Há pessoas que são muito felizes com o seu relacionamento romântico e não sentem essa necessidade. Mas não são a maioria.

Pergunta - Relações superficiais são importantes?

Waldinger - São muito importantes. Conhecidos, pessoas do trabalho,etc. Inclusive, é demonstrado que ter amigos no trabalho é muito importante e nos faz pessoas mais felizes. Nós trabalhamos melhor quando temos amigos no trabalho. Apenas tomar um café e ter uma conversa agradável pode ser muito positivo.

Pergunta - Quais os arrependimentos mais comuns dos participantes do estudo?

Waldinger - O que os homens no estudo mais citam como arrependimento é terem passado muito tempo no trabalho e pouco com as pessoas que amam. Muitas mulheres citam que gostariam de não ter se preocupado tanto com o que as pessoas estavam pensando dela.

Pergunta - Você acha que isso pode mudar nas novas gerações?

Waldinger - Acho que, com as redes sociais, isso é muito pior. As pessoas estão cada vez mais preocupadas com a sua imagem e com o que os outros pensam delas.

Pergunta - É possível usar as redes sociais de modo positivo?

Waldinger - Nós podemos usar as redes sociais ativamente para nos conectar com as pessoas, e a partir daí encontrar com elas e ter relacionamentos na vida real. Mas apenas ficar rolando o feed do Instagram, assistindo ao que os outros estão fazendo, não vai ser algo positivo a sua saúde mental.

 REFERÊNCIAS 

1.https://www.bbc.com/portuguese/articles/cxe3pgjzj3n2

2. https://news.harvard.edu › gazette › story › 2017/04

3. Folha de São Paulo