terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Como praticar Plena Atenção para ter menos estresse?




Esta página se destina a divulgar informações sobre Educação das Emoções e Educação da Atenção. Baseia-se em livros e pesquisas realizadas por Universidades, sobre Neurociências, Medicina e Psiconeuropedagogia. Os posts refletem a experiência de dezenas de anos de trabalho do Autor em instituições educacionais de ensino superior e médio, e da publicação de vários livros e monografias sobre os temas.
As informações deste blog não têm finalidade terapêutica, que deve ser feita por médicos e psicólogos.
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 Se você praticar a Plena Atenção regularmente evitará pensamentos e emoções desagradáveis, terá mais bem estar e será mais feliz.

Sua mente é perturbada todo dia por muitos pensamentos e  lembranças de coisas do passado que você não pode mudar, e por preocupações sobre o futuro, que muitas vezes não ocorrerão. Você deve praticar a Plena Atenção para desenvolver a habilidade de viver no momento presente, em vez de ser prisioneiro do passado ou do futuro.

Neste primeiro post você aprenderá o que é a Plena Atenção ou Mindfulness e  como ela age na sua mente, através da regulação de sua atenção e de suas emoções.

O que é Plena Atenção?


Segundo Kabatt Zinn, pesquisador da Universidade de Massachussetts , a Plena Atenção é um estado de consciência em que se presta atenção ao momento presente, identifica os objetos que surgem na mente sem se fixar a nenhum, de modo intencional, sem julgar, com curiosidade e aceitação, e se acompanha o desdobramento do momento vivido.

Da mesma forma que você fica em um estado de consciência em que está alegre, ou triste, com raiva ou com medo, pode aprender a ficar num estado de consciência no qual preste atenção ao que ocorre em sua mente  e em torno de você, naquele momento. Basta você querer cultivar este estado de plena consciência e praticá-lo constantemente, para desenvolver o hábito de prestar atenção.


A Plena Atenção foi proposta em 1990 por Kabat-Zinn, com o nome de Mindfulness. Nela, o praticante presta atenção ao mundo externo e a seus pensamentos, emoções e sensações corporais, quando está sentado, andando ou fazendo qualquer coisa, deixando de lado o que ocorreu no passado e preocupações com o futuro. Sua mente, ocupada com o momento presente, não permite que pensamentos desagradáveis e emoções negativas a invadam.

A atenção é a sentinela da mente e seu escudo protetor.
O governo dos Estados Unidos, através do National Institutes of Health- NIH (órgão equivalente ao Ministério da Saúde do Brasil),  considera a Plena Atenção um procedimento de saúde, como Medicina Alternativa.
Durante a prática da Plena Atenção aceite, sem reagir, os estímulos vindos do meio exterior, do corpo ou da mente, mesmo se forem desagradáveis. Aceite os efeitos que as emoções produzem em seu corpo e se ela for desagradável, relaxe. Trate igualmente todas as emoções.
Com tempo verá  que as emoções desagradáveis passam e depois vem o bem estar e  a calma. Nada é permanente em nossa vida.


Quais as facetas da Plena Atenção?



Um estudo sobre as facetas que constituem a Plena Atenção, foi realizado por Ruth Baer, pesquisadora da Kentucky University, em 2006. Foram  analisados questionários aplicados para avaliar a atenção, tendo sido encontrados cinco características principais: observar, descrever, agir com consciência, não julgar e não reagir à experiência interior. 

Cada uma das facetas é descrita a seguir:

1. Observar: prestar atenção às sensações vindas das experiências corporais, dos pensamentos, das emoções, visões, sons e cheiros. Prestar atenção é,simplesmente, perceber o que ocorre no momento.

2. Descrever : descrever silenciosamente com palavras as experiências internas. Se estiver subindo uma escada, dizer a si mesmo: “estou subindo uma escada”. Ou  " estou andando na beira da praia, olhando o verde do mar".

3. Agir com consciência: prestar atenção às atividades do momento e perceber, o contexto e o conteúdo de cada momento.  Por exemplo dizer para si mesmo: “estou no meu quarto, em minha casa, sentado em uma cadeira, em silêncio, sem pensar em nada, com o corpo todo relaxado, e presto atenção ao que ocorre dentro e fora dele”.  É ver, ouvir e  sentir diretamente, sem deixar nenhum pensamento interferir.

4. Não julgar a experiência interna: você não deve julgar nada que está observando,nem as sensações, nem os pensamentos e sentimentos. Não avalie se eles são bons ou ruins, agradáveis ou desagradáveis.

5. Não reagir à experiência interna : você deve permitir que seus pensamentos e sentimentos cheguem e saiam da mente livremente, sem deixar que eles o afetem.

Com base nos resultados das pesquisas, Baer elaborou um questionário para avaliar a Plena Atenção, que denominou deQuestionário das Cinco Facetas da Atenção”, o qual é muito utilizado. O estudaremos em outro post.

Como a mente e o corpo reagem na Plena Atenção ?

Durante a prática da Plena Atenção o nervo vago é estimulado, o coração bate mais devagar, a respiração fica mais lenta, relaxam os músculos, diminui a pressão arterial e as ondas elétricas cerebrais são mais lentas . São liberadas substâncias que dão bem estar (dopamina, serotonina e endorfina) e diminui o cortisol, um dos hormônios do estresse.

Se você prestar atenção a sua mente, verá que ela  fica divagando, "passeando", durante o dia. Para saber o quanto nossa mente divaga quando estamos acordados, um grupo de pesquisadores da Universidade de Harvard, liderado pelo psicólogo  Killingsworth  fez uma pesquisa, em 2010, que mostrou a importância da Plena Atenção para a felicidade e bem estar de pessoas saudáveis. 

Ele pesquisou 2.250 participantes, e constatou que durante cerca de 4 horas, que é a metade do tempo em que eles estavam acordados, suas mentes divagavam, saiam do “momento presente" e passeavam de um pensamento para outro. Os participantes declararam que eram menos felizes durante a divagação, se estivessem descansando, no trabalho ou em casa, no computador. A divagação mental andava junto com a infelicidade.

Nossa mente fica pulando de um pensamento para outro, como um macaquinho pula de um galho de árvore para outro.

     COMO AGE A PLENA ATENÇÃO?

A Plena Atenção ou Mindfulness age na mente, no cérebro e no corpo através de  quatro mecanismos: pela regulação da atenção, das emoções, da consciência do corpo ou da mudança na perspectiva do “Eu” , segundo pesquisas de  Hölzel, da Universidade de Liebig, em 2011. Analisaremos agora os quatro mecanismos:


Como age a Mindfulness na Regulação da    Atenção?  

A atenção tem três funções: de alerta, orientação e executiva. A função de alerta mantém nossa mente pronta para receber os estímulos. A  orientação nos permite selecionar os estímulos e mudar a atenção de um objeto para outro. A função executiva permite controlar pensamentos e emoções, e é usada para mudar de um pensamento desagradável para outro agradável.

Numa pesquisa, nos participantes que receberam treinamento em Plena Atenção, foram aplicados testes para avaliar a atenção. Foi verificado nos mais experientes  melhores resultados nas funções de alerta e de orientação, e que a ressonância magnética mostrou aumento da atividade dos lobos frontal e parietal.
A Plena Atenção ativa os lobos frontal e parietal

Como age a Plena Atenção na Regulação das Emoções?

A Plena Atenção diminui as reações da mente e do corpo às emoções, reduzindo os estados de humor negativos, as distrações e emoções negativas. Pesquisa com ressonância magnética mostrou aumento da atividade do córtex pré-frontal  e de outras regiões cerebrais, capazes de inibirem a amígdala cerebral. A mindfulness ativa áreas cerebrais que regulam as emoções.

A amigdala, o hipocampo e o lobo pré-frontal participam da regulação das emoções


Uma maneira de controlar suas emoções com a atenção é tirá-la do objeto que o incomoda. Quando estiver com raiva de alguém, tire sua atenção dele e leve-a para coisas agradáveis. Se encontrar na rua alguém que não gosta, olhe para um carro que passa. Outra forma de controle é se segurar para não agredir alguém de quem está com raiva.

As emoções podem ser controladas pela   extinção, como por exemplo o medo. Um soldado que volta da guerra pode entrar em pânico ao ouvir uma bomba, pois será lembrado do campo de batalha. Mas pode trabalhar sua mente para extinguir o medo que ficou registrado ao ouvir os canhões na guerra.

A amígdala capta estímulos que geram o medo, ficando ativada ao percebê-los. Pesquisas de Holzel mostram que a mindfulness inibe a atividade da amígdala através do aumento das atividades do hipocampo e do córtex pré-frontal. Como ela pode  extinguir o medo,dá bons resultados no tratamento da ansiedade, síndrome de pânico e redução do estresse. Holzel acredita que a Mindfulness pode extinguir a raiva e a tristeza.

A reavaliação é uma estratégia de regulação das emoções em que se faz nova interpretação do significado da emoção. Por exemplo, quando a pessoa está em uma situação difícil e procura ver seu lado bom, que sempre existe.Tudo tem dois lados, um  bom e outro ruim: procure ver o bom.

Quando estiver com medo de alguma coisa, faça uma reavaliação e se pergunte: “Quais as evidências que a situação que estou com medo é real?”.  Você poderá lidar melhor com as causas do estresse analisando-as com calma. Pesquisa de Holzel, comprovou que a Mindfulness aumenta as reavaliações positivas e melhora a tensão emocional.

No próximo post veremos como a Plena Atenção age através da consciência corporal e como ela muda a perspectiva do "Eu". E analisaremos seus benefícios na  educação (melhorando a atenção, memória e controle dos impulsos) e na pesquisa, além de suas aplicações  na medicina e  psicologia, para tratar de doenças, principalmente o estresse.


FONTES

BAER R.A. Using self-report assessment methods to explore facets indfullness, Assessment,2006 Mar;13(1):27-45.

BENSON,H.  The relaxation Response, New York; Morrow,1975.

HÖLZEL, R. How Does Mindfulness Meditation Work? Proposing Mechanisms of Action From a Conceptual and… 2011,http://www.sagepublications.com

KABAT ZINN,J. Full Catastrophe Living, Using the Wisdom of Your Body and Mind to Face Stress, Pain and Illness, New York: Delta, 1990.

 KILLINGSWORTH M. et al., A wondering mind is an unhappy mind, Science,12/11/2010, acesso em 5-8-2014  v.330,932 www.sciencemag.org/cgi/content/full/330/6006/932/DC1

SANTOS, J.O., O poder da Atenção, Salvador, Bahia, no prelo.
IMAGENS (na sequência):
1. http://peloscaminhosdaevangelizacao.blogspot.com.br/2011/07
/o-macaquinho-gentil.html

2. http://www.infoescola.com/anatomia-humana/lobos-cerebrais/

3. http:// www.guia.heu.nom.brl