sexta-feira, 6 de junho de 2025

E-book 81

 

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                E-book 81 

                                 Inteligência Social- atualização

                                         Leitura em  25 minutos.                             


     P S I C O L O G I A

       M O D E R NA

               Blog emoçaoeatencao@blogspot.com

        Prof. Dr. Jair de Oliveira Santos

                                 2025

           QUEM É O AUTOR

Jair de Oliveira Santos é Médico, Professor aposentado da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia, Graduado em Pedagogia, Especialista em Administração Escolar, Fundador e ex-Diretor da Faculdade Castro Alves, onde foi coordenador do Núcleo de Estudos das Emoções e do Programa de Educação das Emoções.

No blog emoçaoeatencao@blogspot.com, o Autor publicou 90 Posts, durante 10 anos, que foram divulgados pela Google em 87 países e teve , segundo o site Ranking Data, cerca de 1 milhão e 188 mil acessos anuais.

 RELAÇÃO DOS CONTEÚDOS DO E-BOOK 81

Capitulo 1: Inteligência Social

Capitulo 2: Como abordar a Inteligência Social

Capitulo 3:  Empatia.

                    

 

 

                            CAPÍTULO I

                     INTELIGÊNCIA SOCIAL

                     Conceito de Inteligência Social

A Inteligência Social é a capacidade de compreender e administrar adequadamente os relacionamentos humanos. Thorndike, 1920, criou o conceito para designar “a capacidade de entender e administrar homens e mulheres”. (GOLEMAN, 2019).

Uma análise mais profunda das idéias de Howard Gardner, da Universidade de Harvard, criador do conceito de Inteligências Múltiplas, mostra que ele considerou o conceito de Inteligência Social, ao propor a Inteligência Interpessoal como parte da inteligência pessoal.

Em revisão, Gardner considera que a inteligência interpessoal denota “a capacidade de entender as intenções, motivações e desejos do próximo e, consequentemente,de trabalhar de modo eficiente com terceiros”. Está claro que ele se refere ao relacionamento social ao declarar “vendedores, professores, clínicos, líderes religiosos, líderes políticos e atores precisam ter inteligência interpessoal aguda”.

Relacionamento é  a capacidade que a pessoa tem de conviver e comunicar-se com os semelhantes e de aproximar-se de outra pessoa para atender às necessidades recíprocas ou trocar informações. Um relacionamento visa que as pessoas troquem informações sobre pensamentos, ideias e sentimentos. Só perdurará  se as necessidades recíprocas forem atendidas.

Damásio trata em seus livros das emoções sociais e considera que surgem quando o indivíduo se relaciona socialmente. Considera que o estímulo para aparecer uma emoção social está no relacionamento e trata das condições para seu aparecimento.  Acredita que na base das emoções sociais estão as emoções primárias, medo, raiva, tristeza, alegria, apego, nojo. Dá como exemplos a simpatia, compaixão, vergonha, embaraço, culpa, desprezo, indignação, espanto, admiração, gratidão, orgulho, inveja e ciúme. Tais emoções são desencadeadas por estímulos emocionalmente competentes de natureza social como quando um indivíduo fica indignado ao presenciar o espancamento de uma criança indefesa por um adulto. Uma pessoa pode sentir vergonha, culpa ou  embaraço, por ter violado suas normas de conduta pessoais, ou por elas terem sido elas violadas por um parente próximo. Outro indivíduo pode ter orgulho de seu pai considerando as realizações dele.

Azanedo (2020), em pesquisa publicada no Ncbi , associa a Inteligência Social à satisfação com a vida, ao bem estar psicológico, à habilidade de se relacionar com outras pessoas e conseguir a cooperação delas, exercendo efeitos indiretos sobre o sofrimento psíquico, interferindo na saúde mental da pessoa. ( Pubmed.ncbinlm.nih.gov). A Inteligência Social deve ser desenvolvida na educação fundamental  e nas faculdades.

O efeito da Inteligência Social nos relacionamentos é grande, pois através de nossas ações afetamos as emoções  e o humor dos outros, bem como o funcionamento de seus corpos. Através das emoções positivas como amor e alegria podemos ajudar a conservar ou melhorar o estado de saúde de outra pessoa, e através de emoções negativas como raiva, medo e tristeza, podemos influenciá-las negativamente.

                             
             Através de emoções negativas podemos agir nos outros.

                               


                             CAPÍTULO II                 
                    COMO ABORDAR A INTELIGÊNCIA SOCIAL

       Pode-se considerar dois fatores na Inteligência Social: um é o sujeito cognoscente e o outro, com  dois componentes: o objeto a conhecer, a outra pessoa, e o meio social que a envolve.

          Numa interação social o processo cognitivo do sujeito cognoscente passa por diversas etapas: na primeira, denominada de Empatia Primordial, ele percebe as emoções, sentimentos e pensamentos do outro; na segunda etapa, da Sintonia, ele estabelece um vínculo com o outro, concentrando sua atenção na sua expressão corporal,  sentimentos e pensamentos.Na terceira etapa o sujeito procura compreender os sentimentos e pensamentos do outro, através da Precisão Empática e, finalmente, o sujeito procura identificar os elementos do meio social circundante, para contextualizar socialmente o relacionamento, na etapa da Cognição Social.

Para Goleman a inteligência social deve passar da perspectiva de uma pessoa para a de duas, interagindo em um relacionamento, e deve ser feito um esforço para entender tanto nossos interesses e necessidades pessoais quanto os dos outros. Desta forma a inteligência social terá uma perspectiva ética pois enriquecerá os relacionamentos com sentimentos da empatia, compaixão e solidariedade.

Os elementos básicos dos relacionamentos devem participar da definição de Inteligência Social, sob pena dela pecar pela ausência dos valores humanos. As  neurociências deram contribuição para a compreensão da inteligência social ao mapear as áreas do cérebro que são ativadas durante os relacionamentos.

        A inteligência social inclui aptidões cognitivas, relacionadas com o pensamento e com a compreensão intelectual e aptidões não cognitivas , relacionadas com as emoções e a intuição, que, são automáticas, não precisam ser pensadas, e só executadas.

Exemplo de atividade automática você tem quando está ao volante de um carro, percebe um barulho e desvia imediatamente o volante para o lado oposto, sem pensar. Só depois sabe do movimento rápido, inconsciente que fez.

Isto ocorre porque a velocidade dos impulsos nos neurônios em que trafegam os estímulos conscientes é de alguns segundos, enquanto a velocidade dos estímulos nos neurônios que processam as emoções é de mili ou microssegundos. A velocidade dos estímulos das informações não conscientes é mil a um milhão de vezes maior do que a velocidade das informações conscientes, daí você primeiro virar o volante para o lado, depois perceber o movimento.

Vo                            Você primeiro vira o volante,depois percebe o movimento feito.

 Goleman entende que considerar a inteligência social,  possibilita nova maneira de pensar o relacionamento.

             Componentes da Inteligência Social

São considerados dois componentes, a consciência social e a facilidade social. A consciência social abrange a capacidade de sentir o estado interno do outro, compreendendo seus sentimentos e pensamentos, além das situações sociais.

 A facilidade social inclui quatro elementos: sincronia, apresentação pessoal, influência e preocupação. A sincronia é baseada na interação não verbal com a outra pessoa e permite que a relação social flua naturalmente através de uma inter-relação não verbal harmônica entre os atores sociais. Seu fundamento está na capacidade de ler os sinais não verbais emitidos pelo outro através da face, olhos, membros e  corpo. São sinais não verbais de sincronia: saber sorrir para o outro na hora certa, balançar a cabeça em sinal de concordância com o que ele diz ou faz, ou inclinar o corpo para sua direção na hora certa. São sinais de assincronia balançar as pernas ou permanecer imóvel durante a interação social.

O segundo elemento da facilidade social é a Apresentação Pessoal, importante para causar a impressão e o impacto desejados e relevante nas interações sociais. Influem  em nosso relacionamento: a forma como nos apresentamos, a roupa, o penteado e o carisma pessoal, que inclui a capacidade de despassar para o outro as emoções que sentimos e fazer com que ele embarque em nossas emoções, entusiasmo, alegria , raiva e  tristeza.

        Outro elemento da facilidade social é a Influência Social, a capacidade que a pessoa tem de moldar construtivamente o resultado de uma interação social expressando-se de forma adequada, deixando  seu interlocutor à vontade .

           Por fim, a Preocupação Social é a capacidade de sentir as necessidades e interesses do outro  e esforçar-se para ajudá-lo.

                         O cérebro social

O termo “cérebro social” se refere a um conjunto de circuitos cerebrais que entram em funcionamento quando uma pessoa se relaciona com outra. Algumas estruturas cerebrais são os caminhos neuroanatômicos da Inteligência Social e desempenham papeis significantes nos relacionamentos, mas não existe nenhuma zona mais importante que outra, exclusiva da vida social.

      Os neurônios cerebrais estão organizados em módulos e a atividade de cada módulo reverbera em todo o sistema. O mapeamento das zonas do cérebro ativadas durante os relacionamentos sociais foi realizado com imagens de ressonância magnética funcional e pela tomografia por emissão de prótons e foram identificadas duas vias, a principal e a secundária.

Segundo Goleman , a “via principal” opera com o controle voluntário, exige esforço e intenção consciente e nela os estímulos, relacionados  com a cognição e a razão, andam com menor velocidade. A via secundária opera no automático, com grande velocidade e não estamos conscientes de suas operações. Está relacionada com processos  afetivos e inclui  amígdalas cerebrais, córtex cingulado anterior, áreas do córtex frontal e regiões do processamento das emoções. 

               A via secundária inclui as amígdalas , cingulo anterior,  córtex frontal e outras.

 A via principal e a via secundária funcionam em paralelo, combinando funções automáticas e outras controladas pela vontade.

A consciência social e a facilidade social abrangem habilidades pertencentes a via secundária e habilidades da via secundária articuladas com a via principal. A empatia e a sincronia são habilidades relacionadas com a via secundária, automáticas, enquanto a precisão empática e a influência utilizam habilidades da via secundária e da principal. Há diversos testes e escalas capazes de avaliar a inteligência social.

CA                                               CAPITULO III 
                                               EMPATIA

A palavra empatia vem do alemão einfühlung , significa “entrar na pele do outro” e tem três significados: conhecer os sentimentos do outro; sentir o que o outro sente e reagir com compaixão ao sofrimento dele, ajudando-o. Na prática  você observa o outro, sente o que ele sente e pratica uma ação para ajudá-lo. Só existe quando sintonizamos sentimentos e pensamentos com os de outra pessoa.

               


                               Na empatia sintonizamos com sentimentos e pensamentos de outra pessoa.

 

Na empatia há associação entre a percepção e a ação: se você ouve um grito de alguém que está apavorado, sente o que ele sente, pensa no que ocorre e age para ajudá-lo. A base neural da empatia está nos neurônios-espelho, descobertos por  Rizzolati em 1996, que explicam o contágio das emoções: porque você ri quando outras pessoas estão rindo.

A descoberta foi feita em macacos, quando Rizzolati procurava identificar neurônios que aumentavam suas   atividades quando o animal estendia a mão para pegar uma banana. Num intervalo dos trabalhos um ajudante da pesquisa comia uma banana e foi verificado que no macaco imóvel, foram ativados os neurônios correspondentes aos que eram ativados no colaborador.

Pesquisas com ressonância magnética mostram que quando um indivíduo pratica uma ação e outro o observa, no cérebro do observador entram em atividade os neurônios espelhos correspondentes aos da pessoa observada.  Através dos neurônios-espelho podemos  nos projetar em outras pessoas, fazer com  que eles nos imitem e experimentar os sentimentos, emoções e pensamentos.  Pelos olhos de uma pessoa somos capazes de saber se ela gosta ou não de nós.

 Quando duas pessoas estão em sintonia, estabelece-se pelo olhar uma “comunicação sem fio” que permite a uma intuir os pensamentos e sentimentos da outra.Se você olha nos olhos de alguém com a mente  tranquila, se sente tranquilo.

Os neurônios-espelho são responsáveis pelo reconhecimento de outras pessoas, interpretação de suas ações e expressões corporais e são importantes no  relacionamento social. Localizam-se nos lobos frontal inferior, parietal superior, temporal superior, da ínsula e  córtex pré-motor.           

Neurônios espelho se localizam nos lobos frontal inferior, parietal superior, temporal superior, ínsula e  córtex prémotor.

 No momento em ocorre a empatia nossas emoções e pensamentos entram em sintonia com os da outra pessoa. Se você vê alguém triste, chorando, em um enterro, sente o que ele sente e tem pensamentos tristes também.

Quando nos concentramos em nós mesmos eliminamos a compaixão e a empatia, há contração de nosso mundo e aumentam nossas preocupações. Se voltamos a atenção para o outro, aumenta a conexão e sintonia, nosso mundo se expande e nossos problemas são menos importantes.  

          Pesquisas indicam ser a compaixão comum em diversos  animais e não característica humana. Ratos presos em gaiolas saem em socorro de outros que sofrem. Macacos rhesus diminuem espontaneamente sua comida e passam fome para que um companheiro de jaula não sofra tomando choques elétricos dolorosos.

Nos seres humanos a empatia é constatada entre bebês desde o nascimento, pois eles choram quando vêm outros bebês chorando, mas não choram quando ouvem seu próprio choro gravado. Depois dos quatorze meses, além de chorar com o sofrimento dos outros, os bebês procuram aliviá-los. Quanto mais desenvolvidos, mais tentam ajudar, indicando que os seres humanos nascem bons.

A empatia primária envolve áreas cerebrais que dependem dos sentimentos vivenciados pelo outro no momento. Pesquisas mostram que para ela existir é necessário prestar atenção ao outro e ela é tanto mais forte quando maior a atenção. Interferem no processo empático as prioridades existenciais da pessoa, seu grau de socialização e diversos fatores psicológicos e sociais.  Desempenha papel importante na atenção, a memória de trabalho, que reside no córtex pré-frontal e pode ser utilizada a qualquer momento, determinando a quais sinais devemos prestar atenção e nos orientando para o que dizer e fazer.

O papel da atenção no desenvolvimento da empatia foi realçado em pesquisa feita  com seminaristas preocupados em fazer um sermão cujo tema era o “Bom Samaritano”. Eles encontraram em seus caminhos um homem sofrendo, gemendo e não lhe dedicaram maior atenção, pois estavam muito preocupados com o sermão que deveriam fazer logo depois (GOLEMAN).

Para os sociólogos, as pessoas nas ruas movimentadas não dão atenção para uma pessoa caída porque estão absorvidas com seus problemas, no chamado “transe urbano”, que tem a finalidade de nos auto-proteger da sobrecarga de estímulos em nossa volta. Pesquisadores relatam que quando as pessoas param para ajudar outras que sofrem, o fazem por sofrem junto com elas, devido à empatia.

A empatia primordial é a capacidade de sentir imediatamente as emoções e pensamentos do outro. É intuitiva, rápida e automática, pois mesmo sem falar, uma pessoa geralmente exterioriza suas emoções, através de suas expressões faciais e corporais. Foi criado um teste para avaliar a empatia primordial, o PONS, que avalia as leituras de sinais não verbais, fazendo a medida da sensibilidade não verbal da pessoa.

Pede-se à pessoa para adivinhar o que acontece emocionalmente com outra, depois de assistir por dois segundos um filme que mostra seu rosto ou corpo e de ouvir sua voz. Os trabalhadores que se saem bem no PONS conseguem melhores avaliações do que as de seus colegas em tarefas interpessoais. Os pacientes de médicos que foram bem avaliados no teste se dizem mais mais satisfeitos com eles e os professores mais bem avaliados são considerados mais eficientes. As pessoas melhor avaliadas são mais queridas nos seus relacionamentos. O PONS revela que as mulheres com filhos são melhores decodificadoras do que as que não têm filhos.

O CÓRTEX ÓRBITO-FRONTAL   

Nos olhos,além das terminações do nervo ótico,há fibras nervosas que dão acesso aos sentimentos da pessoa, pois levam a uma estrutura  crucial para a empatia,a área orbito-frontal do córtex pré-frontal. Quando os olhos de duas pessoas se cruzam,ligam suas regiões órbito-frontais e permitem que elas identifiquem suas emoções. Você sabe, olhando os olhos de alguém, se ele está triste ,alegre, com medo ou raiva ,  e dizerem "os olhos são o espelho da alma."


                                        “
os olhos são o espelho da alma".

                  O córtex órbito-frontal (COF) está localizado atrás e acima das órbitas e nele se juntam a parte mais baixa do córtex cerebral,  o cérebro racional, a via principal, e as amígdalas, parte mais elevada dos centros emocionais, a via secundária. Há ligação destes centros com o tronco cerebral, responsável por reações automáticas.

O córtex órbito-frontal  faz uma  ligação entre pensamento, sentimento e ação. Através dele podemos fazer uma avaliação social instantânea, saber como nos sentimos em relação a outra pessoa, como ela se sentem em relação a nós e decidir como nos comportaremos. Contém neurônios que detectam


emoções no rosto e olhos das outras pessoas que nos permitem fazer interações sociais.

A ressonância magnética da mãe de um recém nascido olhando o retrato de seu bebê, mostra que seu COF se ilumina, não ocorrendo o mesmo com o retrato de um bebê desconhecido. No caso de dois amantes que se beijam, o COF, além de avaliar a situação, permite a constatação do amor existente.                     


                                      
               O COF interfere no beijo dos namorados.

                                                    NEURÔNIOS FUSIFORMES

            Os neurônios fusiformes são células especiais cujo corpo é até quatro vezes maior do que os neurônios normais e cujos axônios são mais longos, permitindo aos estímulos transitarem com maior velocidade. Parecem estar relacionados com a função psicológica da intuição e fazem conexões entre o COF e o córtex cingulado anterior (CCA), área do cérebro responsável pelo direcionamento da atenção, coordenação dos  pensamentos, emoções e sentimentos.

Quando fazemos um julgamento inicial para saber se começaremos um namoro com alguém, grande parte da decisão ocorre no primeiro encontro e depende dos neurônios fusiformes, ricos em receptores de serotonina, dopamina e vasopressina,  importantes na empatia, amor, prazer e interações sociais.

A ressonância magnética mostra que as células fusiformes  se concentram numa área do COF que fica mais iluminada durante a empatia, quando a pessoa olha o retrato da pessoa amada, conhece alguém atraente ou julga estar sendo enganado. Tais células são  abundantes numa  área do córtex cingulado anterior, que tem papel importante no reconhecimento da expressão facial das emoções. Pessoas mais conscientes de  maneira interpessoal têm maior atividade no CCA ).

Uma tomada de decisão começa com a ativação do cingulado, espalha-se pelas células fusiformes do COF e daí para os circuitos emocionais, onde surge um sentimento ser consciente ou não. O córtex cingulado e o COF entram em atividade quando fazemos uma escolha ou damos valor a algo.

Num encontro com alguém o CC e o COF permitem que façamos seu  julgamento em 0,05 do segundo, enquanto as áreas pré-frontais dão informações sobre o contexto social e nos levam ao afastamento ou aproximação. É grande a importância do COF nas interações sociais pois ele nos orienta dando informações para para nos comportarmos adequadamente.

                                               SINTONIA

Na sintonia há conexão com a outra pessoa. Ela só existirá se houver  atenção a ela. Quando há sintonia, a pessoa é ouvida atentamente, procuramos entendê-la e o que dizemos leva em conta o que ela sente, diz e faz.

Podemos melhorar nossa capacidade de sintonizar dando mais atenção às outras pessoas e ouvindo-as pacientemente, tentando sintonizar e compreender suas emoções e sentimentos. Resulta um diálogo que pode  atender às necessidades de ambos, cada um falando o que sente.

Pesquisa mostra que quanto maior é a atenção, maior a sintonia com o outro. Um bebê de dois meses, para sintonizar com a mãe que se aproxima, fica quieto, acalma a respiração, se volta para sua direção e olha para seus olhos e lábios, atento ao que ela diz ou faz.

Os melhores líderes, professores e gerentes têm grande capacidade de ouvir. A sintonia aumenta ao fazer perguntas para entender melhor a situação e sem ela  qualquer relacionamento tende a extinguir-se, por falta de conexão das pessoas.

                                   PRECISÃO EMPÁTICA

A precisão empática possibilita a compreensão do que a outra pessoa pensa e sente e é um avanço em relação à empatia primordial, pois além de contatar com os sentimentos e pensamentos do outro, você procura compreendê-los. É uma habilidade cognitiva que envolve circuitos da via primária do neocórtex cerebral, especialmente os localizados nas áreas pré-frontais. Enquanto a empatia primordial é de natureza emocional e relacionada com a via secundária, a  precisão empática é emocional e cognitiva, envolvendo ambas as vias.

A precisão empática parece ser um dos segredos do sucesso de um casamento, principalmente nos seus primeiros anos. Pesquisa realizada com casais mais precisos na leitura dos parceiros, mostraram que entre eles há níveis mais elevados de satisfação, tendendo o casamento a durar mais (GOLEMAN).

Na precisão empática, para sentir e entender o que outra pessoa sente, utilizamos os mesmos circuitos cerebrais usados em nossa experiência.

                                     COGNIÇÃO SOCIAL

              A cognição social é o conhecimento de como o mundo social funciona. A pessoa competente em cognição social  sabe o que esperar de uma situação e a maneira certa de se comportar . Sabe interpretar os sinais sociais de um grupo e localizar onde está o poder em uma organização. Uma manifestação de cognição social está na capacidade de encontrar soluções adequadas para problemas sociais do tipo como fazer amigos e como organizar uma mesa para inimigos se sentarem.

As habilidades da consciência social interagem entre si : a precisão empática se baseia na capacidade de ouvir e na empatia primordial e todas três citadas  ampliam a cognição social, enquanto a percepção interpessoal é o alicerce para a facilidade emocional. Para navegar no mundo interpessoal e compreender os acontecimentos sociais é fundamental uma boa cognição social.

SINCRONIA     

A sincronia entre os movimentos e expressões corporais de duas pessoas que interagem cria uma harmonia no relacionamento e esta conexão é fundamental para o sucesso.  A sincronia inconsciente entre os corpos de duas pessoas permite à interação fluir naturalmente, pela comunicação não verbal.

As pessoas que sofrem de “dissemia”, incapacidade de ler os sinais não verbais do interlocutor, têm problemas sociais e em crianças pode levar à rejeição social. Nestas pessoas, as  expressões faciais não correspondem aos sentimentos e elas perdem a capacidade de perceber os sentimento do outro.

A dissemia se manifesta nos adultos como incapacidade de seguir pistas não verbais no relacionamento e isto pode levar ao isolamento social, podendo decorrer de trauma emocional e ocorrer sem déficits neurológicos, como no autismo.

                                   APRESENTAÇÃO PESSOAL

       Na apresentação pessoal, o vestuário da pessoa deve ser compatível com a situação social: numa cerimônia, ela deve vestir-se com terno e gravata se for o caso e não com um short e uma camisa de exercícios físicos.

 Um dos aspectos da apresentação pessoal é o carisma, que inclui a capacidade de comunicar suas emoções. Um dos fatores do sucesso do grande líder ou palestrante é a facilidade de transmitir suas emoções e entusiasmar os ouvintes, fazendo com eles entrem em sintonia. É importante o uso da voz, variando o  ritmo e intensidade, permitindo a transmissão das emoções.

Outro segredo é saber controlar a expressão das emoções de modo a atender às normas sociais da cultura. Se a cultura não valoriza a expressão de emoções nos locais de trabalho, esta regra deve ser respeitada. Na nossa cultura aceita-se que as mulheres expressem medo, tristeza e choro, na vida privada, mas não no trabalho. Para os homens o choro é desaprovado em qualquer situação e os meninos, desde pequenos, ouvem que “ homem não chora”.

INFLUÊNCIA E PREOCUPAÇÃO

A influência é a capacidade de obter bons resultados numa interação social, utilizando tato e  auto-controle. Deve-se fazer com que o interlocutor sinta-se à vontade e uma forma de conseguir isso é a pessoa expressar suas   emoções, o que causa boa impressão no interlocutor e o deixa cômodo.

Uma boa cognição social é importante para a influência, assim como ter a capacidade de adequar a expressão das emoções à situação. Dosar adequadamente a expressão corporal e facial, intensidade e tom da voz e ser discreto socialmente são condutas úteis em qualquer contexto.

A preocupação reflete a capacidade de compaixão da pessoa. É conseqüência da empatia, pois sentir as necessidades do outro serve de estímulo à ação para ajudá-lo. Pessoas mais sensíveis ao sofrimento alheio  se mobilizam mais para ajudar e pesquisas sugerem que estimular a atenção e a preocupação das crianças para as necessidades alheias pode aumentar a compaixão nelas (GOLEMAN).

EDUCAÇÃO DA VIA SECUNDÁRIA

Ekman (2008) desenvolveu uma técnica, denominada de METT (Micro Expression Trainig Tool), para ensinar a melhorar a empatia primordial. É baseada nas microexpressões faciais da pessoa observada, que levam cerca de 1/3 do segundo para desaparecer da face e mostram como ela se sente no momento.

Elaborou um CD para treinamento que leva menos de 1 hora onde são apresentados os rostos de pessoas com expressões neutras ou de raiva, medo, felicidade, tristeza, surpresa, nojo ou desprezo. O observador tenta identificar a emoção em cada expressão apresentada, primeiro com a velocidade de 1/15 do segundo, depois com 1/30 do segundo, sucedidas por imagens congeladas para permitirem ver melhor cada expressão e também a avaliação das tentativas feitas.

Segundo Ekman a maioria das pessoas acerta 40 a 50% na primeira tentativa e depois de 20 minutos de treinamento acerta de 80 a 90%. Quanto mais treinar, maior o acerto. Isto mostra que os circuitos nervosos da via secundária podem aprender, desde que submetidos a um treinamento adequado.

Doux conta que, no início do século XX, um neurologista fez um experimento com uma portadora de amnésia grave a ponto do médico ter de se reapresentar em cada consulta. O médico escondeu uma tachinha na sua mão, estendeu-a para a  mulher e apertou sua mão, ferindo-a. Saiu e voltou pouco depois, perguntando-lhe se ela o conhecia, e recebeu como resposta um não. Em seguida o médico estendeu a mão para apertar a da paciente mas ela se recusou a apertá-la, numa evidência de que se lembrava da dor que sentira.

A causa da amnésia da paciente era uma lesão da via principal, no lobo temporal e por isto os fatos relacionados com a cognição eram esquecidos. Como a  via secundária da paciente, a amígdala, estava intacta, ela guardou a lembrança da dor produzida pela tachinha, e se negou a apertar a mão do médico.

 Teste da Inteligência Social

Você deve avaliar sua Inteligência  Social para ver onde pode melhorar. Através do teste abaixo você pode fazer esta avaliação. Depois de responder as questões, analise suas respostas para saber onde  melhorar. A avaliação não é aprofundada, pois ela exigiria um questionário mais complexo.

Instruções

 Este teste, com 15 questões, lhe dará ideia de como está sua Inteligência Social. Leia com atenção, sem pressa e use o tempo necessário para cada pergunta. Cada questão tem 2 alternativas de respostas, S ou N e você deve escolher UMA delas. Marque S se estiver de acordo com a afirmativa, sempre ou quase sempre, ou N se não estiver de acordo com a afirmativa, sempre ou quase sempre. Ao responder considere seu comportamento habitual e não como gostaria de ser.

Questões :  

Questão 1 :Quando me relaciono com alguém procuro ver se ele se sente bem e o contato lhe é agradável.___ S

       Questão 2 : Quando me relaciono com alguém deixo bem claro qual meu objetivo na relação. ___ S

Questão 3 : Quando me relaciono com alguém não procuro compreender seu ponto de vista. ___N

Questão 4 : Quando converso  com alguém fico atento para seus sinais  de comportamento não verbal. ___S

Questão 5 :  Gosto de descobrir o que motiva o comportamento de  outras pessoas __ S

Questão 6 : Quando eu discordo de uma pessoa o faço grosseiramente.  ___ N

Questão 7 :   Costumo interromper o interlocutor ao conversar com ele._ N

Questão 8 : Eu não costumo fazer escuta ativa de meu interlocutor. ___ N

Questão 9:  Geralmente eu tomo a iniciativa de me apresentar a estranhos. ___ SQuQestão 10 :  Em reuniões eu gosto de falar com muitas pessoas. ___ N

Questão 11: Procuro perceber a impressão que causo nos outros.___ S

Questão 12: Me sinto confortável ao me relacionar com  pessoas de qualquer idade. ___ S

Questão 13: Muitas vezes me sinto como o porta voz de um grupo. ___ N

Questão 14: Não me ajusto a qualquer situação social. __ N

Questão 15: Geralmente sou aplaudido quando falo  em público. ___S

 Como chegar a sua Pontuação Final:

Primeiro conte o número de respostas afirmativas S e o de negativas N.

A seguir dê 1 ponto para cada resposta afirmativa nas questões 1,2,4,5,9,11,12,15. Se respondeu N, negativamente, às questões 3,6,7,8,10, 13 e 14. Para sua pontuação final, considere estas respostas invertidas, como se tivesse dado  S, e dê 1 ponto para cada uma delasSua pontuação final será a soma dos S obtidos.

Exemplo: se respondeu S para 9 questões e N para 6 questões, que serão convertidas para S, sua pontuação final será 9 + 6 = 15.

 Significado de sua Pontuação Final:

 Pontuação entre 1 e 5: sua Inteligência Social é muito baixa e merece atenção. Identifique seus comportamentos inadequados e tente melhorar praticando as orientações deste e-book. Se não melhorar procure ajuda profissional.

  Pontuação entre 6 e 10: você tem nível moderado de Inteligência Social e deve melhorar, praticando os comportamentos indicados neste e-book. Depois repita o teste para ver se melhorou e se não melhorar procure ajuda profissional.

Pontuação entre 11 e 15: você tem nível bom de Inteligência Social . Identifique suas deficiências e pratique as recomendações deste e-book. Repita o teste para ver se conseguiu melhorar.

 RESUMO:

1. Thorndike, criou o conceito de Inteligência Social para designar “a capacidade de entender e administrar homens e mulheres”. Uma análise das idéias de Gardner, mostra que ele considerou a Inteligência Social, ao propor a Inteligência Interpessoal como parte da inteligência pessoal.

2. Damásio trata das emoções sociais e considera que surgem quando o indivíduo se relaciona socialmente. Considera que o estímulo para aparecer uma emoção social está no relacionamento e trata das condições para seu aparecimento.  Dá como exemplos simpatia, compaixão, vergonha, culpa, desprezo, indignação, admiração, gratidão, orgulho, inveja e outras.

3. Azanedo (2020), em pesquisa publicada no Ncbi , associa a Inteligência Social à satisfação com a vida, ao bem estar psicológico, à habilidade de se relacionar com outras pessoas e conseguir a cooperação delas.

4. O efeito da Inteligência Social nos relacionamentos é grande, pois afetamos as emoções  e o humor dos outros, bem como seus corpos. Através de emoções positivas podemos ajudar a melhorar o estado de saúde de outra pessoa, e das emoções negativas podemos influenciá-las negativamente.

5. Numa interação social o processo cognitivo do sujeito cognoscente passa pelas seguintes etapas: Empatia Primordial, em que ele percebe as emoções, sentimentos e pensamentos do outro; Sintonia, em que ele concentra sua atenção na sua expressão corporal,  sentimentos e pensamentos. Na Precisão empática  em que o sujeito procura compreender os sentimentos e pensamentos do outro. Finalmente, o sujeito procura identificar os elementos do meio social circundante, na Cognição Social.

6. A inteligência social inclui aptidões cognitivas, relacionadas com o pensamento e compreensão intelectual e aptidões não cognitivas, relacionadas com as emoções e a intuição, que são automáticas, só precisam ser executadas. Como quando você está ao volante de um carro, percebe um barulho e desvia o volante para o lado oposto, sem pensar.

7. São considerados dois componentes da inteligência social: a consciência social e a facilidade social. A consciência social abrange a capacidade de sentir instantaneamente o estado interno do outro, seus sentimentos e pensamentos, e as situações sociais. Tem quatro componentes: empatia primordial, sintonia, precisão empática e cognição social. A empatia primordial permite a compreensão dos sentimentos do outro. A sintonia possibilita que a pessoa se conecte com a outra, enquanto a precisão empática possibilita a compreensão do que o outro sente. A cognição social permite saber como o mundo social funciona e como resolver os problemas sociais.

8. A facilidade social permite utilizar a consciência social para que ela se torne produtiva e eficaz e inclui quatro elementos: sincronia, apresentação pessoal, influência e preocupação. A sincronia , baseada na interação não verbal com a outra pessoa , permite que a relação social flua naturalmente através de uma inter-relação não verbal harmônica. Seu fundamento está na capacidade de ler os sinais não verbais emitidos pelo outro através da face, olhos, membros e  corpo.

São sinais de sincronia: sorrir para o outro na hora certa, balançar a cabeça em sinal de concordância com ele ,ou inclinar o corpo para sua direção na hora certa. São sinais de assincronia balançar as pernas nervosamente ou permanecer imóvel durante a interação.

9.Outro elemento da facilidade social é a Apresentação Pessoal, importante para causar a impressão e o impacto desejados nas interações sociais. Influem no relacionamento a forma como nos apresentamos, roupa, penteado e o carisma pessoal, a capacidade de despertar no outro as emoções que sentimos e fazer com que ele embarque nelas: o entusiasmo, alegria, raiva, tristeza, etc.

10. Outro elemento da facilidade social é a Influência Social, a capacidade que a pessoa tem de moldar construtivamente o resultado de uma interação social expressando-se de forma adequada, deixando o interlocutor à vontade. Por fim, a Preocupação Social é a capacidade de sentir as necessidades e interesses do outro  e esforçar-se para ajudá-lo.

 11. O termo “cérebro social” se refere a circuitos cerebrais que entram em funcionamento quando uma pessoa se relaciona com outra. Algumas estruturas cerebrais são os caminhos neuroanatômicos da Inteligência Social e desempenham papeis significantes nos relacionamentos, mas não há nenhuma zona mais importante ou exclusiva para a vida social.

     O mapeamento das zonas cerebrais ativadas durante os relacionamentos sociais identificou a via principal e a  secundária. A “via principal” opera com o controle voluntário, exige esforço e os estímulos andam com menor velocidade. A via secundária opera no automático, com grande velocidade. Está relacionada com processos afetivos, inclui  amígdalas cerebrais, córtex cingulado anterior e frontal e regiões relacionadas com  emoções.

       REFERÊNCIAS

GOLEMAN, D., Inteligência Social, a ciência revolucionária das relações humanas, Companhia das Letras, 2019
ALBRECHT, K. Inteligência Social, A Nova Ciência do Sucesso, M.Books,São Paulo, 2006.  

DAMÁSIO, A., O mistério da Consciência, Companhia das Letras, 2001.
DAMÁSIO, A., Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos sentimentos, Companhia das Letras, 2004.
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GARDNER,H. Inteligência, Um Conceito Reformulado, Objetiva,Rio de Janeiro,2001
SANTOS, J.O., Educação Emocional na Escola – a Emoção na Sala de Aula, 2a ed., Faculdade Castro Alves, Bahia, 2000.