E-book 5
Paradigma das Emoções
P S I C O L O G I A
Blog
emoçaoeatencao@blogspot.com
Prof. Dr. Jair de Oliveira Santos
2023
QUEM É O AUTOR
Jair de Oliveira Santos é
Médico, Professor aposentado da Faculdade de Medicina da Universidade Federal
da Bahia, Graduado em Pedagogia, Especialista em Administração Escolar, Fundador
e ex-Diretor da Faculdade Castro Alves, onde foi coordenador do Núcleo de
Estudos das Emoções e do Programa de Educação das Emoções.
Pioneiro da Educações das Emoções na Bahia, implantou-a na
Faculdade Castro Alves e em vários colégios, com excelentes resultados.
Publicou os livros: 1- Educação Emocional- fundamentos e resultados;2-
Manuais de Educação Emocional; 3- Educação Emocional na Sala de Aula, e 4-. Educação Emocional: Aspectos Históricos, Fundamentos e Resultados.
Dedicou-se à Educação Médica,
foi Coordenador do Colegiado de Curso de Medicina da UFBA e o presidente da
Comissão de Currículo. Publicou livros e artigos na Revista da Associação
Brasileira de Educação Médica, dentre eles “Educação Médica e Humanismo”, e”
Educação Médica- Filosofia, Valores e Ensino”.
Dedico este e-book:
In memoria:
A minha inesquecível esposa falecida, Olívia,
E a meu Pai e minha Mãe.
A meus filhos:
Jair Filho, César, Telma, Vinicius e Paulo
A meus netos:
Jéssica, Jair Neto, Ana Júlia, Pedro Gabriel,
Maria Eduarda , Larissa e Arthur.
A todos que nos propiciaram condições
e estimularam estudos, pesquisas e
reflexões sobre a Educação das Emoções.
● ● ●
“Quem conhece aos outros é inteligente
Quem conhece a si mesmo é sábio “
Lao Tsé – Tao te King, XXXIII
● ● ●
“Trata a humanidade, na tua própria pessoa ou na de qualquer outra, como um fim em si, nunca apenas como um meio” Kant I.,“Fundamentação da metafísica dos costumes”, 1786.
● ● ●
“Não há outro
universo, senão o universo humano, o universo da subjetividade humana. É
procurando sempre fora de si um fim que o homem se realizará como ser humano”
Sartre,J.P., “O Existencialismo é
um humanismo”, 1944
● ● ●
“Para criar uma boa
vida, não basta lutar por metas que nos
trazem prazer, mas também escolher metas que reduzirão a soma total de entropia
no mundo”.
Mihaly Csikszentmihalyi
A Descoberta do Fluxo, 1999.
COMUNICADO
A partir de 26-11-22, o blog emoçaoeatencao@blogspot.com terá
nova orientação, para atender á sua vasta clientela de milhões de leitores,
conforme avaliação publicada pelo site Ranking Data, abaixo transcrita. Dentro
de sua filosofia de trabalho, publicará também e-books gratuitos, que
conterão o conteúdo dos posts já publicados, de modo a constituírem um conjunto
integrado de conhecimentos.
Ranking database emoção
atenção@blogspot.com, pesquisa.
CONTEÚDO DO E-BOOK 5 –
Capítulo 1 – Conceito e elementos de um Paradigma: concepção de Kuhn
Capítulo 2 – Fundamentos do Paradigma das Emoções
Capítulo 3 – Crítica do Iluminismo ao Paradigma das Emoções
x Capítulo 4 – Críticas da Razão à Emoção
Capítulo 5 – Proposta do Paradigma das Emoções
Capítulo 6 – Primado da Razão
Capítulo 7 – Síntese
PARADIGMA DAS EMOÇÕES
1. Conceito de Paradigma:
Para Platão o Paradigma não é um simples
modelo, uma cópia de algo real. É uma referência para ser seguida, com significado
filosófico e linguístico, e conotações sociais e culturais.
Kuhn foi um professor e pesquisador da Universidade de Harvard e
de outras universidades americanas, estudioso dos paradigmas. Publicou em 1962
um livro com grande repercussão entre os estudiosos, “Estrutura das Revoluções
Científicas”, com o pensamento de diversos pesquisadores consultados.
Para ele, o objetivo a que se refere um
paradigma, pode ser de três tipos de entidades: metafísico-filosóficas,
sociológicas e construtos reais, concretos. O Paradigma pode ser:
1- um
modelo filosófico ou epistemológico; 2- Paradigma sociológico, um modelo
metodológico do qual se originam instrumentos e modos de atuar para resolver
problemas sociais; 3- um modelo de
natureza científica, de fundo epistemológico.
Segundo Bolivar Ruiz, (1997), são
os seguintes os elementos de um paradigma:
1.Um sistema de crenças, valores,
técnicas e procedimentos a serem compartilhados pelos membros de uma comunidade
científica;
2. A maneira consensual com que os membros de uma
comunidade científica produzem os conhecimentos;
3. A
metodologia científica a ser utilizada, clarificando suas etapas;
4. A forma
de interpretar a Realidade;
5. A metodologia para abordar a Realidade;
6. Um
conjunto de exemplos típicos das investigações a serem realizadas (modelos
exemplares)
2. Elementos
do Paradigma das Emoções
● Crença fundamental:
A Emoção é uma reação fisiológica do corpo humano
a um estímulo emocionalmente competente, que produz efeitos no corpo e na
mente. Nenhuma crença pode ser considerada superior à Emoção, numa perspectiva
filosófica. A razão deve ser tratada igualmente como a emoção, sem ser superior
superior à paixão, discordando de Platão.
● Método:
O Paradigma das Emoções deve utilizar um
método compatível com o estágio atual da epistemologia, que leve em conta a
participação do sujeito na observação26,29 e que seja dialógico ou monológico28,
a depender das circunstâncias e necessidades do momento
3.
● As emoções são reações adaptativas do organismo humano determinadas por estímulos emocionalmente competentes que ocorrem quando ele tem de adaptar-se a mudanças do meio externo ou interno;
● As emoções são agentes sociais que podem conformar, estruturar, transformar e promover mudanças na estrutura social;
● As emoções são úteis para elaborar juízos de valor e julgamentos morais e éticos;
● As emoções são úteis para elaboração do conhecimento nas avaliações e valorações;
● As emoções são e foram fundamentais no processo da evolução dos indivíduos e das espécies;
No tocante à educação o Paradigma das Emoções considera que:
4. Utilidade
das Emoções:
Analisaremos a seguir algumas utilidades das emoções que evidenciam a
importância delas em nossas vidas.
● As emoções
são úteis para o autoconhecimento:
Podemos nos conhecer melhor através da percepção de nossas emoções,
sentimentos e de nossa afetividade, de nossas atitudes, interesses, emoções,
sentimentos e desejos, bem assim de como reagimos às emoções a nível corporal,
mental e comportamental.
● As emoções são úteis para conhecimento das outras pessoas:
Através dos processos
de empatia e identificação podemos conhecer melhor os outros e compreendê-los
enquanto seres humanos, em todo seu universo afetivo. A empatia e a simpatia
permitem a compreensão humana, e o verdadeiro conhecimento do outro não é
possível apenas com a simples compreensão intelectual.
As emoções denotam valores nossos e dos outros, se devidamente interpretadas
por nós, permitindo suas identificações. Quando uma pessoa se orgulha de algo
ou de alguém é porque este algo ou alguém tem significado para ela, que o
preferiu em vez de fazer outra escolha. Se me orgulho de meu pai, é porque ele
é importante e é um valor para mim.
Se você ama alguém, este alguém tem valor para você que preferiu amá-la
em vez de outra. Se você fica triste porque perdeu algo, ele tem valor para
você.
As emoções são constituintes
essenciais dos valores. Conforme os critérios adotados, para que algo seja
valor, deve ser selecionado livremente dentre alternativas. E o processo de
escolha passa necessariamente pelas emoções da pessoa, se o objeto apreciado é
ou não agradável. Ninguém escolhe livremente algo que lhe dá desprazer.
Depois é feita a apreciação da escolha, que também depende de fatores afetivos e emocionais: da atitude, interesses, desejos, emoções e sentimentos da pessoa, além da atenção e pensamentos. Após a apreciação, se a pessoa sente-se satisfeita com a escolha, coloca-a em ação, repetidamente, e então o objeto torna-se um valor para ela. A emoção é parte essencial da elaboração de um valor e faz parte dele.
● As emoções são fundamentais quando fazemos avaliações:
Sempre estamos fazendo avaliações ao
elaborar pensamentos e julgamentos avaliadores, juízos de valor éticos e morais
ou praticar atos com validade ética.
E em todo processo de avaliação há
sempre uma carga afetiva maior ou menor do avaliador, a depender das
circunstâncias. Ao avaliar um objeto ele é influenciado por sua atitude em
relação a ele, favorável ou desfavorável, por seus interesses, sentimentos e
emoções do momento, por seus pensamentos, desejos, valores e pela atenção que
lhe dedica. Estudos recentes mostram ser próprio das sociedades humanas ter um
referencial de atitudes e que é fundamental para o indivíduo ter atitudes
reativas, até mesmo para ser reconhecido enquanto pessoa.
Ao avaliar as pessoas, acontecimentos
e circunstâncias que nos envolvem, temos emoções continuadas, mais ou menos
intensas. É um erro pensar que emoções só ocorrem episodicamente em nossas
vidas, mas geralmente só tomamos conhecimento quando elas são muito intensas e
nos descontrolam ou quando produzem efeitos danosos pessoais ou em outros, como
quando temos grandes raivas, alegrias ou medos.
Em cada avaliação pode predominar um
componente, o emocional ou o racional, assim como podem estar equilibrados. Se
predominar o componente emocional, a avaliação será inadequada e deverá ser
refeita, cessados os efeitos da emoção, seja ela positiva ou negativa.
A emoção é especialmente importante
na avaliação de outras pessoas e se o avaliador for emocionalmente frio, terá
dificuldade para estabelecer um processo de empatia com o outro e para fazer o
processo avaliativo.
Analisaremos a importância do orgulho bom no aperfeiçoamento
de alguém. Uma pessoa se orgulha de algo que realizou porque teve prazer no
processo de realização e teve satisfação quando constatou a qualidade do
produto por ela elaborado.
O orgulho é bom quando a ação geradora do sentimento é
eticamente boa e promove o bem de outra pessoa, como no caso do orgulho de um
salva-vidas por ter salvo alguém do afogamento. Porém se pessoa superestimar
sua ação ou a si mesma, este mesmo orgulho passa a ser mau e censurável,
principalmente se ela sentir-se superior aos outros após sua realização e
expressar este sentimento de superioridade com atos, menosprezando-os até.
Dentro da visão de Aristóteles, exposta na Ética a Nicômaco ,
as emoções são maneiras de experimentar o prazer ou a dor e o orgulho é uma
forma de experimentar prazer. Praticamos ações das quais nos orgulhamos devido
ao prazer que temos ao praticá-la e depois quando sentimos orgulho por tê-las
praticadas.
Mas o orgulho pode ser ruim, mau. Se ação praticada por alguém
for má para outra pessoa e mesmo assim o agente se orgulhar dela, este será um
mau orgulho.
Outras emoções, como o prazer, podem servir para nosso
aperfeiçoamento. O prazer é um revelador de valores, pois quando sentimos
prazer ao fazer alguma coisa é porque esta ação tem valor para nós, do
contrário não a praticaríamos. Se você tem prazer em ajudar seus semelhantes, é
porque ajudar seus semelhantes é um valor para você, que foi movido pela
compaixão e solidariedade.
Como a prática da compaixão e da solidariedade lhe dão prazer,
você é estimulado a praticá-las cada vez mais aperfeiçoando-se eticamente
através de suas ações de benemerência, melhorando sua qualidade de vida e
sentindo mais prazer.
Podemos inferir que a prática de emoções apropriadas pode
tornar nossas vidas melhores, tendo em vistas os casos analisados do orgulho,
prazer, compaixão e solidariedade.
● As emoções são úteis para elaborar juízos de valor
Pessoas muito frias emocionalmente são epistemologicamente
pouco habilitadas para fazerem julgamentos valorativos, porque percebem menos
os valores que praticam em seus julgamentos e decisões. As pessoas conscientes
de suas emoções e falhas emocionais são mais habilitadas para perceberem os
valores que afirmam e praticam.
Algumas pessoas respondem bem ao estresse e precisam dele para
prestar atenção ao que fazem e obter sucesso, enquanto o estresse gerado em
outras pelo medo e ansiedade podem gerar falhas epistemológicas de valoração e
estas pessoas, quando medrosas, ansiosas ou estressadas têm dificuldades para
pensar claramente e de perceber adequadamente a situação, comprometendo suas
capacidades de avaliação.
● As emoções são úteis para elaborar julgamentos morais e éticos
Em certas circunstâncias de perigo a emoção de uma pessoa se antecipa
à sua compreensão, ao seu pensamento e a sua razão. Quando estamos diante de um
perigo nos defendemos reagindo automaticamente e só depois tomamos consciência
da ameaça sofrida e do comportamento defensivo que tivemos. É exemplo de uma
situação em que a emoção é mais importante para a vida humana do que a razão.
Pesquisas de Damásio18 mostraram que indivíduos
normais depois de sofrerem lesões cerebrais pré-frontais, tiveram as capacidades
de decidir comprometidas e perderam as capacidades de governar adequadamente
seus comportamentos sociais. Alguns tiveram tais mudanças de comportamento que
casamentos foram dissolvidos, relações familiares se deterioraram e muitos
perderam os empregos.
As personalidades se modificaram e as capacidades de planejar o futuro imediato e o distante foram prejudicadas. Tudo consequência de perturbações emocionais secundárias a lesões de estruturas cerebrais responsáveis pelo processamento das emoções.
● As emoções são fundamentais no processo da evolução dos indivíduos, das espécies e na perpetuação delas.
É relevante o papel das emoções na evolução ontogenética dos
seres humanos, pois permitiram que se adaptassem e sobrevivessem a cada nova
circunstância ditada pelo meio ambiente com a qual se deparou.
Nos animais, a perpetuação das espécies se deu graças às emoções aproximativas, que permitiram acasalamento e a reprodução.
5. Relação entre emoção e razão. Paradigma Iluminista: crítica.
Abordaremos
a complexa relação entre emoção e razão situando a razão na perspectiva do
Iluminismo, que introduziu na cultura ocidental uma forma dominante de pensar e
agir.
Para compreender o Paradigma Iluminista devemos conhecer a evolução das cosmovisões da humanidade ao longo de sua história, até a Revolução Industrial, quando surge a Razão. A humanidade na sua evolução passou por diversos períodos: no primeiro, o forrageiro, o homem era nômade e sua sobrevivência era garantida pela caça e pesca. O segundo foi o horticultor, caracterizadopela cultura manual da terra, em torno do século 100 a.C. e o terceiro período foi o agrário quando foi introduzido o arado na agricultura, entre 20 a 40 a.C. O quarto período, da Revolução Industrial, iniciou-se no século XVII e foi caracterizado pelo uso das máquinas a vapor e outras tecnologias, sendo sucedido pela Sociedade Pós-Moderna ou Informacional.
A cosmovisão, visão de mundo de uma pessoa , depende de cada estágio de evolução da consciência humana e é expressão da sua percepção do kosmos, soma das percepções da realidade física (cosmos), da vida (biosfera), das idéias e pensamentos (noosfera) e do contexto espiritual (tudo que transcende ao cosmos, biosfera e noosfera). No período forrageiro a cosmovisão era arcaica, no período horticultor era mágica, no período agrário era mística e as explicações sobrenaturais serviam para explicar os fenômenos naturais.
A partir da revolução industrial a cosmovisão passou a ser fundamentada na razão e a grande característica da cosmovisão racional é que o homem despreza as explicações sobrenaturais os fenômenos naturais. Esta é a essência do Paradigma Fundamental do Iluminismo, também chamado de Paradigma Moderno, que só considera válido o conhecimento resultante da representação correta e precisa do mundo empírico, real, na forma como ele é percebido por um sujeito-observador.
Para o Paradigma do Iluminismo,
a representação do mundo só é verdadeira se representar corretamente o mundo
natural observado e descrito. Sua crença básica é que há um mundo empírico que
pode ser descrito pela razão desde que seja utilizada metodologia e instrumentos
adequados para a situação observada.
Crítica ao Iluminismo - embora o iluminismo tivesse trazido grandes avanços para o progresso e desenvolvimento humano, a partir do século XVIII começou um movimento contestatório que ficou conhecido como Movimento Pós-Moderno ou Movimento Pós-Iluminismo que marcou o início da Era Pós-Moderna ou Pós-Modernidade. A crítica fundamental ao Iluminismo é que ele ignora em sua metodologia o sujeito-observador, que participa da elaboração da representação do mundo mas não é considerado nos resultados.
Esta reação começou com o idealismo de Imanuel Kant, continuou com Hegel e no século XX com os filósofos existencialistas Schopenhauer e Heidegger, além de Nietsche, Foucault e outros, grandes teóricos da pós-modernidade. Para eles o sujeito da observação é parte dela, pois cada sujeito tem uma história, uma organização psíquica e um desenvolvimento que influenciam o que ele vai ver, o que ele pode ver e como ele vai ver.
Esta linha de argumentação tornou-se consistente com o advento da Psicologia Cognitiva no último quartel do século XX. Ela defende que a maioria esmagadora de nossas percepções não atinge o nível consciente e que muitos estímulos que a ele chegam se tornam objetos da consciência do observador.
Outra crítica ao paradigma Iluminista é que ele parte da crença que o mundo é pré-definido, pré-determinado, fixo. Para os pós-modernistas a realidade observada existe em um contexto, que tem uma história e um desenvolvimento.
A depender do estágio da evolução da consciência do observador ele fará de uma mesma situação, descrições bem diferentes, pois sua cosmovisão será diferente a depender do estágio evolutivo de sua consciência, a qual por sua vez recebe grande influência do estágio de evolução da sociedade e da cultura em que ele vive ou tem contato.
O sujeito-observador está situado em contextos e correntes do desenvolvimento humano que comandam suas descrições do mundo empírico. Existe uma influência em sua percepção e em seu mundo interior da sua afetividade, de suas atitudes, interesses, emoções, sentimentos, desejos e estados de humor, todos contribuindo para a composição da representação de mundo que ele faz.
Uma grande descoberta da pós-modernidade é que as cosmovisões se desenvolvem e evoluem, pois o observador e o mundo observado não são fixos e pré-determinados. Santos (2000) critica o Paradigma Educacional Cognitivo-Racional, expressão do Iluminismo na filosofia da educação, argumentando:
“Ao
adotar a linha behaviorista o paradigma cognitivo-racional afastou o educando
de seu mundo interior, castrando-o emocionalmente, impedindo seu autoconhecimento
e seu autocontrole. Sem dúvidas, este foi um de seus grandes equívocos. Provavelmente
é a ausência do conhecimento mais íntimo do educando responsável pelo grande número
de pessoas infelizes, desequilibradas e frustradas e pela ruptura do tecido social
que hoje vemos. Isto sentencia à falência o paradigma cognitivo-racional
enquanto modelo exclusivo e aponta para a necessidade da busca de outros paradigmas
baseados em novos parâmetros psicológicos, perseguindo o objetivo maior da
educação - criar condições para que ele possa buscar sua felicidade”.
6. Primado da Razão
O Paradigma Iluminista levou a uma supervalorização da razão e da racionalidade, em detrimento da afetividade e da emoção. Tais ideias tinham o apoio de Platão, que defendia ser o homem como uma carruagem conduzida pelo cocheiro que era a razão, com dois cavalos - um eram os impulsos e outro as emoções (STEINER, 1998).
Ao supervalorizar a racionalidade o Iluminismo relega a segundo plano a afetividade e sua importância. Por afetividade compreendemos as atitudes, interesses, desejos, sentimentos, emoções e estados de humor sendo o pano de fundo das ações humanas pois está sempre presente em nossa vida, mesmo sem ser percebida. Sempre temos emoções, sentimentos, atitudes, desejos e afetos de um modo geral, às vezes de intensidades pequenas ou mesmo não conscientes e imperceptíveis, mas sempre influenciando nossas ações.
Já a razão não é utilizada de forma continuada em nossas vidas. Nós refletimos relativamente pouco pois grande parte de nossos atos são automáticos e executados sem reflexão prévia. Quantos de nós somos advertidos ou advertimos aos outros para que reflitam mais antes de agir? Portanto não parece razoável dar mais valor à razão e menos valor à emoção, nem haver o primado da razão.
É evidente que em muitas situações as emoções interferem de modo negativo em nossas vidas, principalmente quando há sequestro emocional e o indivíduo tem comportamento violento e destrutivo, prejudicial para si mesmo ou para os outros. É o caso da raiva e se há alegria muito intensa: pode ser prejudicial à saúde. Mas é um erro generalizar-se para todas as emoções e dizer que todas interferem de modo negativo no comportamento humano em todas as situações.
Na realidade, muitas emoções são extremamente úteis. Lembrar a importância do medo para a preservação da espécie humana: se não fosse o medo que nossos ancestrais tiveram das feras que tentaram comê-los, não estaríamos vivos agora. Outro erro frequente é ter como referencial para as emoções as que são muito intensas e que ocorrem de forma incontrolável. Na verdade, se cada um de nós fizer uma análise das emoções de grande intensidade que sentimos em um dia normal verificará que são em pequeno número e na sua maioria elas são de pequena e média intensidades. A questão é que não fomos educados para identificar, perceber e avaliar nossas emoções e sentimentos, por isto não podemos lhes dar as importâncias devidas em nossas vidas.
Na verdade as emoções fazem parte do nosso cotidiano e ocorrem a cada momento em que nos adaptamos a novas circunstâncias da vida, a qualquer mudança em nossos relacionamentos ou nas circunstâncias que nos cercam. A emoção é uma forma de adaptação automática que se processa de modo não consciente em nosso organismo.
A fria racionalidade pode ser até perigosa, se os raciocínios desenvolvidos forem baseados em dados incorretos ou tiverem erros de lógica, de valoração ou de tomada de decisão. Basta lembrar os erros cometidos pelos engenheiros que resultam em desmoronamentos de pontes e edifícios pelo mundo afora ou os cometidos no lançamento de naves espaciais que mataram seus tripulantes. A razão não é infalível e tem sérias limitações.
Stocker (2002,p.125) cita William Brenner, ex-Juiz da Suprema Corte dos Estados Unidos ao dizer:
“Os autores da Constituição dos Estados Unidos operaram dentro de um universo político e moral que experimentara a paixão arbitrária como a maior afronta à dignidade do cidadão... No nosso tempo, a experiência nos ensina que a maior ameaça é a razão formal, separada da visão alcançada pela paixão”.
7 7. Emoção e Epistemologia Em certas situações epistemológicas a emoção é mais importante que a razão. Na avaliação do comportamento humano, a compreensão intelectual baseada na razão e na lógica é insuficiente para a percepção e compreensão da situação. É o que deixa claro Morin (2000), ao admitir duas formas de compreensão: a intelectual ou objetiva e a humana ou intersubjetiva. Compreensão vem do latim comprehendere e significa abraçar junto, abraçar as partes e as inter-relações existentes entre elas, perceber o uno e o múltiplo, o texto e o contexto, em toda sua complexidade.
A compreensão intelectual implica na inteligibilidade e passa pela explicação. Implica no discurso lógico, com conclusões sustentadas pelas premissas correspondentes, esclarecendo ao interlocutor os significados das proposições.
A compreensão humana exige
a sensibilidade de quem quer compreender. Ele deve orientar sua percepção para
os pensamentos, sentimentos, emoções, atitudes e comportamentos da outra pessoa
e estar atento às suas reações.
A compreensão humana transcende à explicação lógica pois está além dela, ultrapassando a compreensão intelectual pois é uma apreensão direta da realidade, imediata, intuitiva, não racional. A compreensão humana resulta de um processo misto de empatia, identificação e projeção, através do qual nos colocamos no lugar do outro e procuramos enxergar o mundo com seus olhos e sentimentos. O outro não é percebido de forma objetiva, como outra pessoa, mas sim como alguém com quem nos identificamos, em quem nos projetamos.
Para Morin (op.cit.): “A compreensão humana pede abertura, simpatia, generosidade”. Em certo sentido há superioridade da compreensão humana emocional e afetiva sobre a racional. Stocker (2002, p 126) cita as seguintes situações em que a fria racionalidade pode ficar fora do controle da pessoa e levá-la a erros: ceticismo indevido; aceitação ou rejeição indevida de tradição, de autoridade ou de formas de trabalhar ou de levantar dados; subestimar a importância, a evidência ou a probabilidade de serem corretas certas crenças e teorias; manter teorias e crenças errôneas não comprovadas devidamente.
Porque rejeitar o primado da Razão
A questão fundamental do primado da razão está em admitir-se como ponto de partida de modo preconceituoso e sem fundamentação científica a prioridade da razão sobre a emoção. Começa-se pensando bem sobre a razão, admitindo-se que ela é benéfica e superior e pensa-se mal sobre a emoção, considerando-a inferior e produzindo ações negativas.
As conclusões resultantes são naturalmente viciadas, comprometidas e levam a outras conclusões elaboradas a partir das premissas iniciais falsas.
Os defensores do primado da razão consideram premissas fundamentais que a razão é superior à emoção e que a racionalidade fria é cognitivamente mais acurada e benéfica que a emoção. Para eles a emoção perturba os conhecimentos e os pensamentos, ela é má e prejudicial a eles de um modo geral, em todas as situações e de forma universal.
O conhecimento atual das neurociências, da psicologia, antropologia,sociologia, axiologia e filosofia mostram que isto não é verdade. Mas estas ideias estão tão arraigada na cultura ocidental, a emoção está tão estigmatizada de forma pejorativa que quando nos referirmos a uma pessoa que tem comportamento psicológico inadequado dizemos que ela é “emocional” ou “age emocionalmente”.
Na nossa cultura a palavra “emocional” passou a ser sinônima de ruim e desequilibrado. Quando se diz que “Antônio é uma pessoa emocional realmente se quer dizer que ele é desequilibrado, imprevisível e de difícil relacionamento. Por outro lado, se queremos fazer elogio a um negociador, dizemos que ele é frio e calculista, querendo dizer que é uma pessoa controlada, racional e por isto tem mais possibilidades de ter sucesso. A razão é colocada em primeiro lugar.
É frequente rotular de “emocional” a conduta má e perigosa de alguém. Emocional do seu significado original, de “estar ligado às emoções” passou a significar mau e perigoso. A conduta emocional passou a ser necessariamente má e perigosa, não porque seja efetivamente má e perigosa, mas só porque é chamada de “emocional”.
Quando alguém faz uma coisa que leva ao resultado desejado seu comportamento é considerado racional e adequado. Mas se o comportamento não atinge o objetivo esperado é rotulado preconceituosamente de “emocional”. A emocionalidade é invocada quando se quer dizer que as coisas estão indo mal, erradas. Um debatedor que quer desqualificar seu opositor o acusa de emocional, mesmo se ele estiver usando argumentos lógicos, consistentes, racionais.
Os comentários feitos acima passam de forma subliminar mas efetiva a ideia de que as emoções de um modo geral são perigosas e más e que devemos ter muito cuidado com elas e não devemos deixar aflorá-las para não perdermos o controle e termos condutas inadequadas. Esta é uma das causas da apreciação negativa da emoção, que se tornou tradição e perpetuou-se em nossa cultura.
A questão da razão sem emoção
Analisaremos agora a seguinte questão: é possível haver razão fria sem interferência da emoção ou da afetividade? É possível razão em emoção? Stocker (2001,p132) sustenta que a razão necessita de emoções e defendendo sua proposição cita Platão em Fedro (253 ss) e na República 580 e SS): “a razão tem e requer para sua perfeição os seus próprios prazeres e desejos”.
Continua citando Schachtel:
“Não há ação sem afeto, é claro que nem sempre um afeto intenso e dramático como (...) em uma ação impulsiva de raiva, mas mais frequentemente uma atitude total, às vezes bem madura, às vezes muito sutil e quase despercebida que no entanto constitui um fundamento essencial para cada ação”. E conclui: “O ideal da razão não emocional ou do raciocínio não emocional é completamente irrealizável. Realmente, é tão irrealizável que deve ser sumariamente rejeitado”
Para Stocker (2001 p213):
“O ideal de uma vida de
razão desprovida de emoção (...) é, na verdade, uma vida psicológica e com avaliação
impossível: psicologicamente
impossível pois não
está entre as psicologias que uma pessoa possa ser, pois é intolerável ou
seriamente falha, uma vida de severa incapacitação, até mesmo de insanidade”.
Realmente, para que possamos ter uma vida competente em termos de avaliação precisamos usar outros instrumentos além da razão, principalmente para compreender os seres humanos. Para nos relacionarmos bem precisamos algo além da compreensão intelectual: precisamos muito mais de nossos sentimentos e afetos do que da razão. Só assim podemos compreender os sentimentos e afetos do outro.
A vida baseada exclusivamente na razão fria seria intolerável. O grande sentido da vida do homem é ser feliz e a felicidade resulta de um estado de bem estar para o qual participam diversas emoções. Por outro lado as emoções precederam à razão no desenvolvimento humano e existem independentemente dela.
Emoções, desempenho intelectual, decisões e planejamento
As emoções podem desempenhar papel importante no desempenho intelectual. Quando uma pessoa motivada pelo ódio planeja e executa friamente a morte de alguém, um assalto ou um roubo, o planejamento e a execução são a princípio acionais, mas contribuem de forma substancial elementos afetivos e emocionais. Eles também contribuem para planejamento e execução de uma ação piedosa como a ajuda humanitária às vítimas de um terremoto, de furacões e de outras catástrofes ambientais.
Damásio (1996,p155) demonstrou o papel importante das emoções e sentimentos nas decisões e no raciocínio humano considerando-os indispensáveis nestas duas funções psíquicas. Para ele, cada experiência social de nossa vida é sempre acompanhada por certo grau de emoção, em grau maior ou menor, ora sutil, ora mais intensa, particularmente quando lidamos com problemas de natureza pessoal ou social importantes, movidos pela simpatia ou pelo medo. Nossas emoções e os sentimentos correspondentes são componentes obrigatórios de nossas experiências individuais e sociais.
Uma capacidade importante do nosso comportamento refere-se ao planejamento, capacidade de prever o futuro mediante a comparação do passado com o presente através da imaginação, abrindo a possibilidade de antevermos o futuro e nele nos situarmos. Moldamos de forma benéfica as ocorrências futuras com maiores ou menores possibilidades de acerto, a depender de nossos esforços e potencialidades.
Para Damásio(1996,p157): aqui,4-3
“Sob a influência das
emoções sociais (da simpatia e da vergonha ao orgulho e à indignação moral) e
das emoções que são induzidas pelas punições e recompensas (que são variantes
da alegria e da mágoa), somos capazes de categorizar gradualmente as situações
de que temos experiência. Categorizamos os erros em que participamos (...) e
somos capazes, além disso, de associar as categorias conceituais que vamos
formando (...) com os dispositivos cerebrais que desencadeiam as emoções. Por exemplo,
diferentes opções de ação e diferentes resultados futuros acabam sendo
associados a diferentes emoções e sentimentos. Em virtude destas associações (...)
somos capazes de desencadear rápida e automaticamente a emoção que lhe
corresponde”.
Quando uma emoção e seu sentimento são desencadeados num contexto apropriado de planejamento do futuro, sua presença indica aquilo de bom ou mau que poderá ocorrer neste futuro este papel preditivo das emoções pode ser consciente ou não consciente.
Podemos concluir que as emoções e sentimentos são partes constituintes importantes e indispensáveis do processo racional do planejamento humano. A emoção é componente da razão e dela faz parte. Pesquisas de Damásio (1996,2004) mostram que emoções interferem na fase de decisão e que a execução também é influenciada pelas emoções momentâneas da pessoa e pesquisas recentes da psiconeuroimunologia mostram que o impulso emocional tem origem no sistema límbico, situado na base e no interior do cérebro, mas a expressão das emoções é regulada por estruturas situadas no córtex cerebral préfrontal.Cada lado do córtex pré-frontal lida aparentemente com diferentes reações emocionais - as emoções que nos fazem recuar, como o medo e a repulsa, são reguladas pelo lado direito e os sentimentos positivos, como a felicidade, esperança e otimismo, são regulados pelo lado esquerdo.
As emoções que sentimos e a maneira de lidarmos com elas são governadas por circuitos neruronais localizados no córtex pré-frontal e por outros circuitos cerebrais interligados. Podemos interferir na fase de decisão do ato de vontade, através do controle das expressões de nossas emoções, por isto elas não podem ser mais ignoradas nos raciocínios que formulam teorias sobre o pensamento e a conduta humana. Damásio (2004) estudou vários indivíduos que eram inteiramente normais e sofreram acidentes com lesões cerebrais do córtex pré-frontal, mantiveram a capacidade de decidir fortemente comprometida. Comprometeram a capacidade de governar seus comportamentos sociais e suas capacidades de decidir, especialmente em situações de grande incerteza.
Relata o caso de um paciente que tinha dificuldade até para marcar a data da consulta de retorno a seu consultório. Nestes doentes casamentos foram dissolvidos, relações familiares se deterioraram e muitos perderam os empregos. As personalidades se modificaram e a capacidade de planejar atividades ficou comprometida, tanto para o futuro imediato como para o distante, principalmente no tocante ao planejamento financeiro.
Tudo como conseqüência de lesões de estruturas cerebrais que ligam o sistema límbico com o córtex cerebral que são responsáveis pelo processamento das emoções.Segundo Damásio (op.cit.) fica melhor a capacidade de análise e de decisão quando determinados sinais emocionais, desencadeados automaticamente por nosso organismo (tipo palpitação do coração, falta de ar discreta ou cólica abdominal) são colocados em ação. Eles chamam a atenção para que devemos fazer melhor avaliação da situação e escolher dentre alternativas de decisões anteriormente ignoradas, livrando-nos assim de consequências negativas.
Estes sinais emocionais aparecem antes de ser feita a escolha com base no raciocínio, na razão e nos alertam para possível situação de perigo. Eles não substituem o raciocínio, mas atuam de forma auxiliar, colaborando para melhorar a decisão a ser tomada e aumentando sua eficiência. Fica assim evidenciada pelas neurociências a importância das emoções para processos psicológicos anteriormente admitidos como exclusivamente racionais, como o de decisão.
Irredutibilidade da emoção à razão
Os defensores de que as emoções podem ser reduzidas à razão argumentam que elas têm conteúdo cognitivo e por isso são a ele redutíveis. Muitos teóricos defendem que o conteúdo cognitivo das emoções é a crença e argumentam que quando alguém tem medo de uma cobra quando a vê, na essência deste medo está a crença que a cobra é perigosa e pode lhe fazer mal. A pessoa acredita que a cobra é perigosa mas se ela não acreditasse nesse perigo não teria medo da cobra. Logo o substrato do medo estaria na crença.
Encarado em sua universalidade este argumento perde sua validade pois há muitas emoções que não são conscientes. Existe emoção sem haver crença prévia a ela não havendo portanto consciência da emoção pois a dimensão cognitiva está ausente. A existência de emoções não conscientes não depende da cognição do sujeito e ele não precisa acreditar em algo para ter a emoção, logo ela não pode ser reduzida a uma simples crença. Não se pode aceitar a redução da emoção à razão.
Outro forte argumento contra a redutibilidade da emoção à razão está na vergonha pois ela não depende de qualquer crença ou pensamento prévio. Quando uma pessoa sente vergonha, tem vergonha em relação a algo, a algum ato mau que praticou ou a alguém que a envergonha, e isto não depende de nenhuma crença prévia.
Defensores da redutibilidade das emoções à razão argumentam que os sentimentos e as emoções devem ser entendidas como formas proposicionais
da razão e são complexos de crenças, avaliações e ações..Não se pode negar que as emoções têm um conteúdo cognitivo em sua constituição mas além dele têm também o conteúdo afetivo, o avaliativo e o desiderativo, relacionado com o desejo. É um erro querer reduzir todos os conteúdos a apenas ao cognitivo, racional o que levaria ao primado da razão. Não se pode descartar o conteúdo afetivo das emoções pois ele é o conteúdo essencial delas.
Damásio (2004,p 93)), favorável à irredutibilidade das emoções à razão declara que : “A minha hipótese não é compatível com a idéia de que a essência dos sentimentos, ou a essência das emoções quando emoções e sentimentos são considerados sinônimos, é simplesmente uma coleção de pensamentos com certos temas ligados a um certo rótulo emocional, como por exemplo pensamentos de situações de perda em relação a tristeza e referidos ao objeto que os causou”.
Para ele a ideia tradicional de sentimento não é aceitável por não levar em consideração o estado de funcionamento do corpo, o que esvazia os próprios conceitos de sentimento e de emoção.Damásio tem uma ideia dinâmica de sentimento, que considera ser a percepção de mapas cerebrais do corpo, laborados continuamente por certo número de estruturas cerebrais. Estas estruturas vão desde o tronco cerebral, hipotálamo, prosencéfalo basal, amígdala cerebral até aos córtices cerebrais de associação de alta ordem. A origem do sentimento está na vida do corpo, tanto assim que quando morremos não temos mais sentimentos e emoções. Em síntese, o sentimento é a percepção da representação de um determinado estado de funcionamento do corpo, conhecido através de um “mapa” elaborado a partir de determinados parâmetros fisiológicos, característicos de cada órgão ou sistema considerado. Estes parâmetros emergem de reações homeostáticas que se processam no organismo, relacionadas com suas pulsões, motivações, emoções, impulsos, etc. e que são percebidos pela pessoa sob a forma dos sentimentos. O corpo é continuamente mapeado por estruturas cerebrais que recebem informações a serem utilizadas para controlar as funções orgânicas, harmonizar seu funcionamento e manter a saúde. Damásio (op.cit.pág. 92) considera que:
“Um sentimento é a percepção de um certo estado do corpo, acompanhado pela percepção de pensamento com certos temas e pela percepção de certo modo de pensar”.
Por exemplo, o coração é permanentemente mapeado pelo cérebro, que recebe informações sobre a velocidade com que está batendo, sobre a intensidade da sua força de contração e se o ritmo está regular. Não temos consciência disto, nem da elaboração de mapas do funcionamento do rim, pulmão, fígado, sangue, estômago, ossos, músculos e do próprio cérebro.Se houver funcionamento inadequado de qualquer órgão, através do sistema nervoso autônomo o organismo restaura seu funcionamento regular.Damásio acredita que os sentimentos de fundo são expressões do funcionamento regular do organismo e que são responsáveis por nos sentirmos em determinados dias com mais entusiasmo para a vida e outros dias apáticos, sem muita vontade para fazer as coisas. Por causa deles um dia estamos mais calmos e outros dias mais estressados e ansiosos. Dentro desta perspectiva, os sentimentos de emoções são diferentes dos pensamentos porque a essência dos sentimentos está no ato do corpo reagir a certos objetos e situações e nós pensarmos sobre o corpo assim surpreendido.
Não é lógico descartar-se a afetividade enquanto conteúdo das emoções, pois ela não pode ser alcançada ou descrita por meio de explicações lógico-discursivas devido a ter natureza diferente da razão.
O Autor deste trabalho entende que Razão, Emoção e Afetos são formas complementares e integradas para se perceber e não podem ser reduzidas umas às outras. Elas não são excludentes e se associam, interpenetram e complementam. Para que possamos perceber e compreender o mundo de forma adequada, devemos utilizar como instrumentos razão, emoção, afetos e intuição.
Utilizamos em nosso dia a dia com mais frequência sentimentos, emoções e afetos e a razão com menos frequência. Infelizmente a imensa maioria das pessoas não tem consciência da extensa gama de emoções que utiliza para viver, principalmente das emoções de fundo: entusiasmo, apatia, bem estar, mal estar, calma e ansiedade, além das emoções primárias e das sociais.
Através da Educação das Emoções nos libertaremos do primado da razão e aprenderemos que a emoção é um elemento constitutivo dos valores, tem grande significado epistemológico e deve ser parceira da razão e da intuição para melhor percepção e compreensão do mundo.
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